Rival de Lance Armstrong revela história de insultos e chantagem antes da Volta a França de 2002: "São pessoas que manipulam a realidade para ganhar, para se apoderarem de tudo"

Ao longo dos anos, muitos ciclistas criticaram as práticas "mandonas" de Lance Armstrong durante o seu tempo de domínio do pelotão. O último a recordar a arrogância do texano foi Igor González de Galdeano.

Muitos acreditam que o plano de Armstrong se centrava no doping, mas foi muito além disso. Controlava os rivais, gritava no pelotão e assustava os organizadores. Por exemplo, o que o espanhol Galdeano, então ciclista da ONCE de Manolo Saiz, viveu num GP de Midi-Libre em que foi segundo na geral atrás do ciclista da US Postal numa das etapas decisivas.

Foi isto que ele disse à rádio SER: "Quero contar-vos uma história que me aconteceu com Lance Armstrong numa corrida chamada Midi Libre, que servia de preparação para a Volta à França. Eu corri com ele. Na última etapa, eu estava em segundo lugar na geral, atrás dele, por alguns segundos, e estava a terminar numa subida difícil. Ele não se devia estar a sentir bem e uma das minhas surpresas foi que começou a insultar-me".

Não só o insultou, como também não o deixou subir ao pódio da corrida (no vídeo abaixo pode ver a fotografia de Armstrong sozinho no pódio da corrida):

"Sempre que o atacava ele vinha atrás, não só por causa do esforço mas também para me dizer todos aqueles insultos que não vou proferir agora, em inglês e espanhol, sim porque ele falava um pouco de espanhol. A verdade é que fiquei muito surpreendido com a sua falta de desportivismo e o pouco respeito que tinha pelos adversários. Quando chegámos à meta, era o último dia, subimos ao pódio os três primeiros e eu fiquei em segundo lugar. O diretor da corrida disse-me 'Igor, não podes subir, porque o Lance Armstrong disse-me que se subires, ele não sobe e não posso fazer mais nada porque precisamos do Lance Armstrong no pódio'".

Igor lamenta profundamente o que Armstrong estava a fazer:

"Histórias de como pessoas como Lance manipularam a história, as pessoas, como ele impôs o seu poder sobre tudo. Graças a esse poder, conquistou muitas vitórias e pisou muitas pessoas, como me pisou a mim naquele momento. Na fotografia da Midi Libre de 2002, ele está sozinho. São pessoas que manipulam a realidade para vencer, para se apoderarem de tudo".

É preciso dizer que Igor não era qualquer um. Precisamente nesse ano de 2002, na Volta a França, terminou em quinto lugar, vestiu a camisola amarela e ganhou um contrarrelógio. O seu colega da ONCE, Joseba Beloki, foi segundo na geral, atrás de Lance Armstrong que, como se sabe, viria a ser destituído da sua vitória após revelado toda a rede de doping que circulava à sua volta.