José Azevedo já leva muitos anos ligado ao ciclismo, alguns deles passados como braço direito de um dos mais controversos ciclistas de todos os tempos: Lance Armstrong.
Lance Armstrong admitiu fazer parte de uma rede de doping da qual ele seria o principal beneficiário, perdeu todos os títulos da Volta a França e desceu do céu ao inferno num ápice. Com a sua descida ao inferno arrastou consigo toda a modalidade, descredibilizando-a, afugentando patrocinadores e foi um dos principais culpados da destruição do ciclismo no seu próprio país.
Ainda hoje há quem defenda que "naquela altura todos se dopavam e mesmo assim ele era o melhor", algo que era tido como regra geral, um hábito e uma prática comum no pelotão profissional.
José Azevedo não vê as coisas dessa forma e explica."Não sei. Mas não me preocupa. Tenho orgulho no meu percurso como ciclista. Tenho orgulho de ter corrido na ONCE, liderada por Manolo Sainz, que também teve problemas. E de ter corrido na US Postal e Discovery, de ser companheiro de equipa do Armstrong, de ter o Johan Bruyneel como diretor desportivo. São pessoas com quem aprendi muito de ciclismo. A nível da organização estrutural, programação, planificação, comportamento com os corredores, até na parte psicológica", diz em conversa com O Jogo.
Azevedo fez parte de equipas que têm um passado com ligações ao doping e nos dias de hoje ninguém se esquece desses tempos e fala mal dessas equipas. "É lógico que o digam, até o Armstrong esteve envolvido num grande problema de doping. O projeto tinha esse lado, não era só o Armstrong. Mas se hoje sei que o Armstrong consumiu substâncias proibidas foi porque ele o disse", explica.
"Porque nunca vi. Nunca fui assediado dentro da equipa para usar produtos dopantes. Foi algo que me passou completamente ao lado. Tinha a minha missão na equipa, o meu calendário, as minhas responsabilidades, ia para as provas e sabia qual era o meu lugar e o que exigiam de mim, ajudar o Armstrong a ganhar. Só me preocupei com isso."
Questionado sobre se nunca lhe tinham perguntado por Armstrong, Azevedo diz. "Repito o que disse: nunca vi, nunca fui assediado. Fiz o meu trabalho, tenho orgulho do que fiz na carreira. O aconteceu, aconteceu a ele. Os corredores estão em sua casa, é aí que treinam. Não sei o que se passa na casa dos outros. Posso falar por mim."
Para continuar "E não vou dizer mal dele, porque como pessoa, como colega de equipa, para mim foi do melhor que existe. Nunca se comportou como vedeta, nunca teve uma falta de respeito connosco, sempre valorizou o nosso trabalho. E nós não estávamos ali por obrigação, éramos pagos para trabalhar para ele. E ele tinha sempre uma palavra de agradecimento."
A imagem que o ciclista americano passava para fora era completamente diferente da que realmente víamos "Quando estávamos no hotel, autocarro, ou em estágios, éramos todos iguais. Quando ele saía do autocarro passava uma imagem de distância, se calhar para se proteger."
Azevedo revelou o que mais admirava em Armstrong: “Lembro-me de uma vez, na zona da Califórnia, estar a chover. Era um estágio de 15 dias e sabíamos que no seguinte estaria sol. Ele já tinha ganho seis vezes o Tour e fomos todos treinar na mesma. Essa dedicação e esforço eram exemplos a fixar", concluiu.