A 85ª Volta a Portugal terminou em Viseu no passado domingo, onde Artem Nych da Sabgal - Anicolor Cycling Team confirmou no contrarrelógio o trabalho feito pela equipa até à etapa da Senhora da Graça. Depois de uma primeira etapa em linha para o Observatório de Vila Nova onde o então líder da equipa Mauricio Moreira perderia alguns segundos e de uma etapa para a Torre para esquecer, no dia seguinte, a caminho da Guarda, um golpe enorme fere a equipa de Águeda. Mauricio Moreira, que passara mal a noite, abandona a corrida.
Órfã do seu líder, a Sabgal - Anicolor reinventou-se. Eram 4 os minutos que separavam o seu melhor homem, Nych, para o camisola amarela. E pelo caminho ainda tinham de lidar com o vencedor da Volta do ano passado, Colin Stussi. Numa conversa com O Jogo, Ruben Pereira, director desportivo da equipa abre o jogo " Vencer, vencer... não. Tínhamos os pés bem assentes na terra e olhando à forma como estávamos posicionados, teria de surgir uma reviravolta muito grande. Pensamos ser possível meter o Artem no pódio. Não o dissemos para fora, mas era a meta interna"
O plano era dar a Nych as armas para lutar pelo pódio, entrando em fugas para recuperar o tempo perdido, mas as fugas acabaram por ditar outra sorte na corrida, a vitória final " Que me lembre, esta é a vitória mais bonita, a mais especial de todas para a equipa. Por ser a Volta a Portugal, mas também pelo ambiente interno. A forma como os outros cinco homens se uniram em torno do Artem, as conversas que tivemos à noite... é inexplicável. Tínhamos noção de que podíamos mudar a Volta. Quando ele ganhou em Boticas, foi o arrancar do nosso objectivo" relembra.
Ruben Pereira recorda os momentos difíceis pelos quais a equipa passou na corrida " A partir do momento que perdemos o Mauricio Moreira, ficamos sem o líder inicial. Toda a equipa trabalhou para ele, na etapa da Torre até o Artem, que poderia ter chegado com os da frente, mas mandei-o esperar pelo Mauricio. Fez quilometro e meio parado à espera dele e perdeu bastante tempo. Quando vimos que era um caso perdido, tivemos de nos reinventar"
Com a Sabgal como novo parceiro e principal patrocinador da equipa, houve um maior investimento, logo a pressão para vencer por parte dos patrocinadores podia ser grande " Foi um ano de grande investimento, mas não aquele que algumas equipas fizeram para a Volta. Nós não investimos a pensar em Portugal, mas para internacionalizar a equipa e abrir portas a outro tipo de corridas. Gastámos boa parte do nosso orçamento no estrangeiro, até porque actualmente as verbas que lá fora pagam ás equipas é reduzida"
Apontando ao estrangeiro, a Sabgal marcará presença no Circuito Getxo e na Volta ao Luxemburgo, mas também " vamos à Volta à Grã Bretanha, ao Tour de Vendée e a algumas clássicas em França" sublinha Ruben, " O investimento internacional está a resultar, isso é notório pelas nossas redes sociais e pelos convites que temos recebido. É incrível, pois éramos nós a ter de nos oferecer e passou a ser o contrário. A equipa tem sido bem recebida e somos elogiados por alguns organizadores, como os do Gran Camino".
Um dos nomes sonantes contratados para 2024, Mathias Breghnoj, ficou de fora da Volta, logo impunha-se perceber as razões da sua ausência. "Ficou de fora por minha opção. Era importante ter o Frederico Figueiredo. Ele fraturou o rádio, esteve duas semanas sem treinar, evitou a operação e decidimos que ia tendo só duas semanas de preparação. Era muito importante ter o Frederico. Tinha dito que ele seria a nossa salvação a partir do terceiro dia, não para um resultado próprio, mas como homem chave no apoio aos lideres."
Sobre o futuro, Nych será o líder da equipa. E Mauricio Moreira? " Tem contrato até 2025. Se ele vai correr ou sair, já são outros contos. Não sei o que quer para o seu futuro" termina Ruben, de forma enigmática.