"Se a Israel participar, a resposta é não" - Presidente do governo local das Ilhas Canárias incendeia a discussão sobre a Volta a Espanha 2026

Ciclismo
terça-feira, 16 setembro 2025 a 10:30
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Na sequência dos dramáticos acontecimentos das últimas três semanas na Volta a Espanha 2025, levantam-se agora dúvidas sobre o futuro da grande volta espanhola. Depois de várias etapas terem sido interrompidas por protestos pró-palestinianos e da corrida ter terminado de forma caótica em Madrid, os organizadores enfrentam uma incerteza crescente quanto à realização das próximas edições e, sobretudo, sobre onde e como garantir a segurança. Estava previsto que a edição de 2026 terminasse nas Ilhas Canárias, mas esse plano está em risco.
Antonio Morales, presidente do Conselho Local de Gran Canaria, foi taxativo na sua posição. "Devo dizer com absoluta convicção que se Israel participar, a resposta é não. A Gran Canaria não está disposta a branquear o genocídio e as acções de Israel através do desporto ou de qualquer outra forma", declarou ao jornal espanhol AS.
As suas palavras atingem diretamente o cerne do debate: pode o desporto internacional manter-se neutro perante um conflito político tão visível e brutal? O trigo deve ser separado do joio, mas a Vuelta 2025 deixou essa questão exposta de forma clara e dolorosa. Morales reforçou a sua ideia: "Veremos o que acontece nos próximos meses, mas é claro que, se Israel participar, a Gran Canaria não acolherá a Vuelta a España".
Esta declaração incendiária demonstra como as consequências da edição de 2025 se estenderão muito para além de Madrid, afetando o planeamento futuro da corrida e até a credibilidade dos organismos dirigentes do ciclismo.

A posição da UCI e o dilema dos organizadores

A União Ciclista Internacional (UCI) já deixou claro que não pretende excluir a Israel - Premier Tech. Segue, nesse sentido, a linha do Comité Olímpico Internacional, que em 2022 proibiu equipas russas e bielorrussas das competições, mas que não aplicou a mesma medida a Israel em 2025. Assim, a equipa israelita mantém-se reconhecida pela UCI, o que reduz drasticamente a margem de manobra para organizadores locais que enfrentem protestos.
As implicações ultrapassam a Vuelta. A maior corrida do mundo, a Volta a França, arranca em 2026 em Barcelona, levantando receios acrescidos após o caos em Espanha este setembro.

O alerta internacional

Renaat Schotte, comentador da Sporza, foi claro no diagnóstico: "A Israel-Premier Tech tinha sete ciclistas na corrida, o que representa 4,5% do pelotão. Inicialmente, o protesto era obviamente dirigido a esses ciclistas, mas o pelotão inteiro é a vítima".
Schotte destacou ainda a delicadeza política de organizar grandes corridas em Espanha num momento tão tenso. "O Tour começa no próximo ano em Barcelona. Por isso, penso que a ASO, organizadora do Tour, que também está envolvida na Vuelta, vai pedir garantias aos políticos espanhóis. Os fracassos de Madrid em 2025 mostram os perigos de avançar sem compromissos firmes das autoridades".
Segundo o analista belga, as falhas de segurança na Vuelta devem servir como aviso: "Nestas circunstâncias, é difícil organizar um evento de topo como o Tour se isto estiver a pairar sobre a nossa cabeça".

O contraste com o Tour

O colapso da Vuelta 2025 foi tanto mais surpreendente por contraste com a Volta a França, que decorreu sem sobressaltos em julho. Apesar do maior mediatismo, de multidões mais numerosas e de um alcance global incomparável, a prova francesa escapou a protestos de grande dimensão, porque foi melhor organizada, mobilizou mais meios e não teve os políticos franceses a incendiar a corrida.
Se os manifestantes quiserem marcar presença na maior montra do desporto, nada garante que a Volta a França não seja o próximo alvo, mas aqui, tudo indica, a resposta será mais firme.
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