A 10ª etapa da Volta a França 2025 acrescentou mais um capítulo entusiasmante a uma corrida já repleta de emoção. Simon Yates conquistou uma vitória memorável, Tadej Pogacar perdeu a camisola amarela e Ben Healy assumiu a liderança da geral. Mas, para lá das manchetes, surgem interrogações quanto à estratégia da UAE Team Emirates - XRG, especialmente depois de um dia em que Pogacar ficou isolado dos seus companheiros de equipa.
A Team Visma | Lease a Bike voltou a aplicar pressão eficaz sobre a formação dos Emirados e sobre o seu líder. Durante grande parte da jornada, os principais gregários de Pogacar foram distanciados, enquanto os neerlandeses conservaram mais força no grupo dos favoritos. Contudo, apesar desta superioridade, Jonas Vingegaard não lançou qualquer ofensiva significativa, possivelmente optando por guardar energias para as etapas decisivas nas montanhas.
As implicações da etapa foram analisadas no podcast The Move, conduzido por Lance Armstrong e com comentários de George Hincapie, Bradley Wiggins, Spencer Martin e Johan Bruyneel. Foi precisamente Bruyneel, ex-diretor desportivo da US Postal, quem mais criticou a abordagem da UAE.
"Acho que os Emirates estavam a forçar demasiado", opinou Bruyneel. "Eu tê-lo-ia deixado passar. Não havia razão para continuar a puxar. Mesmo que o Ben Healy tivesse levado a amarela com cinco ou dez minutos, isso teria facilitado as próximas etapas. Em vez disso, fizeram uma etapa agressiva e perderam a camisola por pouco. Na minha opinião, exageraram e Pogacar ficou exposto como resultado".
Bruyneel defendeu ainda que perder deliberadamente a liderança podia ter sido uma jogada inteligente. "Se tivessem deixado o Healy ir dez minutos à frente, teria sido o ideal. A EF Education teria de controlar as próximas etapas, incluindo Hautacam. Mesmo que Healy não perdesse tudo logo, a EF ficaria com o peso da corrida".
Com a ausência prolongada de Wout van Aert a moldar a estratégia da Visma, George Hincapie destacou o impacto psicológico do dia. "Mentalmente, foi uma grande vitória para eles. Sepp Kuss esteve brilhante, Jorgenson fenomenal e ainda venceram a etapa. Isso levanta muito o moral".
Bruyneel concordou: a capacidade de isolar Pogacar pode ser decisiva mais adiante. "Mostraram que conseguem deixá-lo sem equipa. Vão tentar isso outra vez muito em breve".
Contudo, nem todos os analistas ficaram convencidos. Bradley Wiggins mostrou-se frustrado com o que classificou como falta de coesão tática na Visma. "São a equipa mais forte da prova e disseram desde Lille, na primeira etapa, que vinham para fazer uma corrida agressiva", sublinhou. "Mas acho que não estão a usar essa força com inteligência. A 10ª etapa pareceu-me desorganizada. Sim, ganharam a etapa, o que alivia alguma pressão, mas se não vencerem o Tour, quantas vitórias de etapa chegam para evitar chamar-lhe fracasso?"
Para Armstrong, porém, o panorama continua a apontar para um confronto direto. "Vai ser um mano a mano", afirmou. "Viram aquela aceleração do Pogacar no último quilómetro? Explosivo. Como mudar de canal na Netflix. Só há um tipo no pelotão que consegue seguir aquilo: Jonas. Ele é o único que importa. É ele quem decide se a Visma ganha o Tour ou se acaba apenas no pódio".
Bruyneel reforçou essa leitura, sugerindo que apenas Jorgenson poderia ser mais do que um mero apoio: "O único da Visma que pode mesmo incomodá-lo é o Jorgenson. Kuss e Yates não conseguem. O perigo está em Pogacar ficar sozinho e algo correr mal, um furo, uma avaria, ou ter de ir ao carro buscar garrafas nas montanhas. Isso preocupa-me mais do que a força bruta. Porque em força, ninguém o acompanha".
Num apontamento técnico, Spencer Martin levantou uma curiosidade: Pogacar pode nem ter levado a 10ª etapa com a máxima seriedade. "Ele estava a pedalar com a bicicleta mais pesada – não a versão leve para subidas. E sem desrespeito pela Colnago, mas testes independentes apontam-na como a menos eficiente do WorldTour".