Depois de dois anos marcados por quedas, azares e funções secundárias,
Jai Hindley regressou à ribalta. O vencedor do Giro 2022 chega ao segundo dia de descanso da
Volta a Espanha 2025 com um discurso contido, mas carregado de ambição: sente que a última semana da corrida pode jogar a seu favor.
Em conferência de imprensa, o australiano da
Red Bull - BORA - hansgrohe deixou escapar uma frase com muito peso: “Talvez o Jonas esteja um pouco cansado depois do Tour.”
O recado é claro.
Jonas Vingegaard, líder da geral, e João Almeida, principal rival, enfrentaram um verão intenso, com a Volta a França a deixar marcas. Hindley, pelo contrário, chega mais fresco: desistiu cedo do Giro após uma queda e optou por um verão de treino em altitude, sem desgaste competitivo. O resultado é uma versão mais controlada, paciente e em forma, a mais convincente desde o triunfo em Itália há três anos.
Um plano simples: frescura e apoio
“Há muito tempo que não estava a este nível, e é bom estar de volta onde pertenço”, reconheceu Hindley. A estratégia da Red Bull foi clara: menos corridas, mais preparação. E até agora tem dado frutos. O australiano limitou perdas nas grandes etapas de montanha, incluindo no Angliru, onde só Vingegaard e Almeida mostraram mais, e continua colado ao top 5 da geral.
Parte do segredo tem estado no apoio da equipa e na emergência de Giulio Pellizzari, sexto na geral e líder da juventude: “O Giulio é um tipo porreiro. Tem uma energia incrível, tanto dentro como fora da bicicleta. Já correu para mim e está a fazer uma grande corrida.”
A dupla está a funcionar, e a Red Bull - BORA parece encontrar o equilíbrio certo entre presente e futuro.
O obstáculo do contrarrelógio
Se há ponto fraco no caminho de Hindley, é o contrarrelógio da 18ª etapa. Mas o australiano insiste que não é mais o mesmo ciclista vulnerável nesta vertente: “Trabalhei muito com especialistas como Dan Bigham e Jonny Wale. Hoje consigo gerir melhor a disciplina e transformá-la numa arma controlável.”
Depois disso, ainda restará a temida Bola del Mundo, cenário ideal para um trepador nato como Hindley.
Pódio como objetivo, mas sem fechar a porta a mais
O australiano reconhece que o pódio é o objetivo mais realista: “Corre-se sempre para ganhar, mas neste momento um pódio em Madrid seria incrível para mim e para a equipa. Mas não vai ser fácil, não vai ser oferecido.”
Na mira está sobretudo Tom Pidcock, que ocupa o terceiro lugar, mas cuja capacidade de recuperação numa última semana de Grandes Voltas continua a ser uma incógnita. Hindley já provou no Giro que cresce com o passar dos dias.
Uma narrativa familiar
A narrativa é típica de Hindley: manter-se resguardado no início e atacar quando mais conta. Foi assim em 2022, e pode ser assim em 2025. Não se declara favorito, não lança bravatas, mas deixa clara a sua mensagem: está de volta e pronto para lutar.