Tim Declercq anunciou o fim da sua longa carreira profissional. O belga de 36 anos, que desde 2024 representava a
Lidl-Trek, confirmou a reforma depois de a equipa ter decidido não prolongar o seu contrato. Inicialmente, chegou a ser discutida uma renovação, mas o plano acabou por cair por terra após mudanças na estratégia do patrocinador. Para Declercq, que passou grande parte da carreira como fiel gregário, sobretudo nos anos de Quick-Step, a decisão encerra mais de uma década ao mais alto nível no pelotão WorldTour.
Em entrevista ao Het Nieuwsblad, o belga explicou que a realidade se impôs durante os treinos e que a vida familiar teve peso decisivo na escolha: "A intenção é definitivamente estar em casa com mais frequência. Isso desempenha um papel importante na decisão de parar. Se a minha filha está num acampamento de dança e eu não estou no espetáculo no último dia, isso é algo que nunca vou recuperar. Quando não se é uma estrela, como eu, é frequente entrar nas seleções à última hora. Isso torna tudo mais difícil fora das corridas".
Declercq reconheceu que o equilíbrio entre família e ciclismo deixou de ser sustentável: "Hoje em dia, é muito difícil conciliar o ciclismo com a vida familiar. Gosto muito dos meus filhos, mas, como pai, estamos em desvantagem em relação aos jovens que não têm responsabilidades. É natural que atinjam níveis incríveis. Eu continuo a ter os mesmos resultados dos meus melhores anos, mas quando o nível médio sobe, acabamos por ficar para trás".
Outro fator que pesou foi a segurança: "Já não me atrevo a correr os riscos que corria. O perigo é real e, se tivermos medo, não conseguimos. Como pai de duas crianças, vejo as coisas de forma diferente. Muitos correm o contrário, mas eu não consigo ignorar os riscos".
Sem receio de apontar exemplos, Declercq criticou práticas que, na sua opinião, aumentam os perigos: "Há quem pense: ‘não me importo de cair’. Posso dar um exemplo:
Matej Mohoric é um corredor que procura correr da forma mais económica possível, o que é compreensível. Mas ao travar o mais tarde possível e cortar nas curvas, obriga a quedas… não dele, mas dos que seguem atrás".
Conhecido no pelotão como "O Trator" pelo trabalho incansável na frente, o belga também refletiu sobre o futuro do ciclismo na sua família: "Já pensei se os meus filhos vão querer correr mais tarde. Não os vou encorajar ativamente. É uma pena, porque o ciclismo é um desporto maravilhoso e ensina muitas coisas valiosas como pessoa".