O regresso de
Filippo Baroncini à bicicleta, sob o sol abrasador do Dubai, foi mais do que um treino, foi um renascimento. Apenas alguns meses depois do acidente devastador na
Volta à Polónia, que o deixou em coma induzido e com múltiplas fraturas, o italiano de 25 anos voltou a pedalar, com serenidade e uma gratidão que contagia todos à sua volta.
“Tem sido um período especial, uma mistura de altos e baixos”, confessou Baroncini ao
Bici.Pro. “Talvez se possa dividir: a fase hospitalar, depois o regresso a casa, depois a reabilitação, que também teve os seus altos e baixos e, finalmente, o regresso à bicicleta.”
O ciclista da
UAE Team Emirates - XRG esteve dois meses e meio sem tocar na bicicleta, enquanto recuperava de fraturas na clavícula, na coluna vertebral e na face. A gravidade do acidente deixou a comunidade do ciclismo em choque, mas a recuperação surpreendeu até os médicos.
Entre a dor e o renascimento
“No hospital tive a sorte de ter a minha família ao meu lado todos os dias”, contou. “Isso ajudou-me imenso mentalmente. Os médicos e as enfermeiras foram muito simpáticos e encorajadores – isso tornou os dias mais quentes. Eu só tinha de aguentar até à noite. Ter pessoas positivas por perto fez realmente a diferença.”
Quando finalmente chegou a autorização para iniciar a reabilitação física, o progresso foi imediato.
“No início, pensaram que teria de ficar num centro a tempo inteiro, mas depois viram que a minha recuperação estava a correr bem e permitiram-me seguir um programa de ambulatório. Isso foi um grande impulso de motivação”, explicou.
O italiano iniciou o processo no Centro de Fisiologia de Forlì, com uma equipa médica que já conhecia e que o ajudou a recuperar sobretudo o tónus muscular perdido. “A recuperação correu logo bem, sobretudo a nível muscular, que era a principal coisa que eu tinha perdido.”
De volta à estrada, e à vida
Hoje, Baroncini voltou a sorrir sobre duas rodas. Sob o sol do deserto, o antigo campeão do mundo sub-23 e vencedor da Volta à Bélgica 2025 sente-se novamente ciclista.
“Sinto-me mais calmo agora. Estou mais feliz. Voltei a andar de bicicleta e senti-me imediatamente melhor. Os meus ossos estão bem, tudo está sólido, por isso consegui regressar rapidamente à normalidade”, explicou.
O regresso, contudo, é feito passo a passo. “Adoraria ir diretamente para as corridas de quatro horas, mas é como começar do zero, especialmente para o sistema cardiovascular. O objetivo é fazer com que o meu ritmo cardíaco e o meu condicionamento voltem ao normal.”
Antes de voltar à estrada, o italiano passou semanas em caminhadas, treino indoor e fisioterapia.
“O principal problema agora é a rigidez muscular e articular”, admitiu. “Estou a trabalhar nisso com osteopatas e fisioterapeutas.”
O reencontro com a equipa no Dubai
O momento mais simbólico aconteceu quando voltou a juntar-se aos companheiros da UAE Team Emirates - XRG no Dubai.
“Foi uma grande emoção, como se me tivesse afastado do grupo e finalmente me tivesse juntado a ele”, descreveu. “Era exatamente o que eu precisava: estar de volta à equipa, mostrar que estou aqui, partilhar como as coisas estão a correr. Toda a gente ficou surpreendida com a minha boa recuperação.”
O primeiro treino coletivo foi carregado de emoção. “Era a sensação que mais ansiava, mais ainda do que saber como o corpo iria reagir. Não estava à espera de sentir-me logo ótimo, apenas queria redescobrir-me a fazer o que sempre fiz.”
Planos e gratidão
A recuperação de Baroncini já entrou numa nova fase.
“O meu treinador começou a carregar sessões no TrainingPeaks, e ter um plano semanal já é um grande passo. Gradualmente, estou a aumentar a carga – por vezes, sessões duplas: ginásio de manhã, bicicleta à tarde.”
Durante este processo, a gratidão tem sido a palavra-chave.
“Muitas pessoas escreveram-me durante este tempo”, disse. “Os meus amigos vieram visitar-me, e depois toda a direção da equipa, o presidente Matar Suhail, Matxin, Gianetti, e colegas como Covi. Até o presidente da federação, Cordiano Dagnoni, veio visitar-me. Foi muito importante ver toda esta proximidade e apoio.”
Mais do que uma recuperação, uma lição
Para o jovem italiano, cada pedalada representa mais do que treino: é uma afirmação de vida.
Depois de um ano que quase o afastou para sempre do ciclismo, Filippo Baroncini regressou ao seu elemento natural, o vento, o sol, a estrada, com uma serenidade que só quem passou pelo limite conhece.
“Voltar a pedalar foi o melhor remédio”, disse. “A minha vitória, neste momento, é estar de volta à bicicleta.”