Nos últimos tempos, o pelotão internacional tem sido assolado por acidentes em massa a alta velocidade, com consequências físicas sérias para muitos ciclistas. O caso mais recente, ocorrido na Itzulia País Basco 2024, reavivou o debate sobre a segurança em descidas rápidas e nos finais de etapa. Uma das soluções mais discutidas tem uma natureza surpreendentemente simples: limitar as relações de transmissão, e assim, a velocidade máxima dos ciclistas nos momentos mais perigosos.
Wout van Aert tem sido uma das vozes mais ativas nesta questão. Após a sua queda na Dwars door Vlaanderen 2024, o belga explicou ao
L'Équipe a lógica da proposta:
“Se estivermos nesta descida (que leva ao Kanarieberg) com uma relação de transmissão limitada, ninguém se pode mexer. Hoje em dia, a evolução é tão grande que ainda se pensa em ultrapassar”, afirmou.
A proposta dos corredores ganhou força e, esta sexta-feira, o presidente da
UCI,
David Lappartient, confirmou em entrevista ao
Ouest-France que a federação está a preparar um teste oficial desta limitação de mudanças, a realizar ainda antes do final de 2025, embora sem indicar em que corrida será feito.
Apesar disso, Lappartient mostrou-se cauteloso quanto à eficácia da ideia: “Reduzir a velocidade, em geral, é um pouco antitético numa corrida de bicicleta”, comentou. “Tenho reservas quanto a esta proposta, porque pode mudar o perfil de certos ciclistas — entre os que pedalam em cadência e os que impõem força com mudanças longas.”
Além da questão das transmissões, a UCI estuda outras medidas de proteção, como o reforço do vestuário. Os atuais calções e camisolas usados nas provas são ultraleves e aerodinâmicos, mas oferecem pouca ou nenhuma proteção em caso de queda. Embora ninguém defenda que os ciclistas corram “de armadura”, materiais mais resistentes poderiam atenuar os ferimentos frequentes causados pelas quedas a alta velocidade.
Com os atletas cada vez mais velozes, os materiais mais sofisticados e os percursos mais técnicos, o equilíbrio entre espetáculo e segurança volta a ser tema central — e a pressão do pelotão começa finalmente a produzir respostas concretas.