Caleb Ewan voltou a saborear a velocidade pura do velódromo. Catorze anos depois de ter conquistado o título mundial de Omnium na categoria júnior, o sprinter australiano reencontrou a
pista — e com ela, algo que há muito estava adormecido: o gosto puro pelo arranque explosivo.
Agora ao serviço da
INEOS Grenadiers, Ewan tem vivido um início de temporada animador, com uma vitória na Settimana Coppi e Bartali e um triunfo de peso numa etapa da Volta ao País Basco. Mas nos bastidores, a equipa britânica está a trabalhar em algo mais profundo com o sprinter: uma reativação da sua potência máxima através de treinos intensivos em pista. “É quase como um desporto completamente diferente”, confessou Ewan à
Cycling Weekly. “Fiz muita pista quando era mais novo, mas desde que me tornei profissional, não fiz basicamente nada. Depois de tantos anos na estrada, especialmente como sprinter, perde-se alguma da explosividade natural. A pista ajuda-me a recuperar isso. Essa é a ideia.”
A iniciativa surgiu por sugestão de Mehdi Kordi, novo diretor de desempenho e inovação da INEOS. Mal aterrou no Reino Unido, Ewan foi direto para a pista. Três dias intensos, de imersão total, que o deixaram exausto — mas motivado. “Foi um choque para o corpo, mas também um lembrete do que eu adorava neste tipo de esforço”, recorda. “Estar ali ao lado dos melhores especialistas de pista do mundo foi inspirador. Pedi para fazer arranques com eles, só para testar as pernas.”
Um dos nomes com quem trocou impressões foi
Matthew Richardson, ex-australiano agora a competir pela Grã-Bretanha. Ewan reconhece que há um fosso enorme entre os números de potência que os sprinters de pista produzem e aquilo que se faz no pelotão de estrada. “Eles vivem para o sprint puro. Nós temos de sobreviver às subidas, às semanas de competição contínua, aos quilómetros e quilómetros antes de chegar à meta”, diz o australiano. “Mas poder sentir essa intensidade pura outra vez foi viciante.”
Embora seja impossível atribuir todos os seus recentes bons resultados à incursão na pista, é evidente que a experiência teve um efeito psicológico e físico positivo. “Sinto que voltei a um bom nível. E talvez a pista tenha ajudado nisso”, comentou após vencer uma etapa no País Basco.
Ewan admite agora que gostaria de manter a ligação ao ciclismo de pista, talvez até com algumas provas no futuro — não como um regresso definitivo, mas como complemento ao seu trabalho na estrada. “É definitivamente algo que quero continuar a explorar. Não só me diverte, como sinto que realmente me ajuda enquanto sprinter.”
Num desporto em que a especialização se tornou extrema, Ewan parece encontrar numa abordagem híbrida a chave para revitalizar a sua carreira — e talvez, mais vitórias estejam no horizonte.