Uma etapa do Giro com mais reviravoltas que a recente meia-final da Champions - saiba quais as opiniões dos nossos escritores

Ciclismo
quinta-feira, 15 maio 2025 a 21:30
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A sexta etapa da Volta a Itália 2025 ficará marcada como o dia mais caótico desta edição até ao momento. O que prometia ser uma jornada animada por uma fuga combativa e um sprint final na costa de Nápoles, transformou-se num palco de quedas, decisões polémicas e um final carregado de frustração e incerteza para o pelotão e para os adeptos.

Resumo do caos:

  • Fuga tímida: Apesar de um início animado, a luta pela fuga resultou em apenas três elementos — Lorenzo Fortunato, Taco van der Hoorn e Enzo Paleni —, com o italiano a abdicar da tentativa depois de somar mais pontos para a classificação da montanha. O duo resistente viria a ser prejudicado por manifestantes na estrada, a poucos quilómetros do final, num episódio chocante e perigoso que apenas mais tarde veio a público.
  • Queda em massa: A cerca de 70 km da meta, com o pelotão ainda em ritmo moderado e sob condições de chuva, uma queda coletiva abalou o grupo. Com vários ciclistas no chão, entre eles Jai Hindley, que acabou por abandonar, o cenário de incerteza instalou-se.
  • Neutralização inédita: A organização decidiu anular os tempos para a classificação geral, os pontos da Camisola por pontos, o quilómetro Red Bull e os limites de tempo (OTL) — mas manteve a disputa pela vitória da etapa. Uma decisão que gerou reações fortes e opiniões divididas entre especialistas e jornalistas.
Vamos conhecer as opiniões de alguns dos nossos escritores, do CiclismoAtual e CyclingUpToDate:

Ivan Silva (CiclismoAtual)

Sobre a etapa de hoje o principal foco vai para a queda que marcou o dia! Porque é que aconteceu? Creio que isto é uma das inevitabilidades do pelotão. Uma descida, estrada molhada. O pelotão nem sequer rodava a uma intensidade muito elevada já que a fuga era composta por poucos elementos e estava a uma distância controlada mas uma queda na frente do pelotão é sempre perigosa para o pelotão.
Recordo-me assim a olho de ver um ciclista na parte de trás do pelotão a cair só ao tentar desviar-se dos outros ciclistas caídos e acabar quase projetado contra um muro. Talvez agora comecemos a falar do uso de pneus com compostos mais duros e que tenham melhor aderência na chuva, mas acho que estamos bastante longe de conseguir chegar a este ponto.
Quanto à decisão de neutralizar a etapa, creio que foi o mais adequado de acordo com a prioridade à segurança dos ciclistas. Pelo que percebi foi Roglic quem representou o pelotão em conversa com a organização da prova e creio que terá falado em nome de várias equipas para que o desfecho fosse este. para o espetador foi um final anti-climax e a etapa perdeu qualquer tipo de interesse que pudesse ter.
Quanto ao vencedor, é difícil dizer que ganhou o melhor quando alguém como Mads Pedersen acabou por se descartar do sprint final quando viu que a neutralização também se aplicava aos pontos obtidos na meta, o que prova que o objetivo dele é a Maglia Ciclamino. De forma geral foi uma etapa infeliz com um final anti-climax, que todos quererão certamente esquecer  

Rúben Silva (CyclingUpToDate)

Uma etapa longa, e estou contente por ter visto finalmente uma verdadeira luta pela fuga. Continua a ser agradável ver o novo comportamento da INEOS Grenadiers, houve finalmente uma equipa que tentou realmente alterar o resultado esperado das corridas - algo com que, honestamente, fiquei muito desapontado nas primeiras 5 etapas da corrida.
Acho que fizeram mal em apanhar o grupo que tinha o Tarling, vendo como o final se desenrolou, um grupo um pouco maior poderia ter conseguido a vitória. Agora o acidente... Com alguma chuva, estava destinado a acontecer eventualmente. É sempre triste, e neste caso não se tratou de posicionamento nem nada, foi azar - embora Roglic possa estar contente por o ter evitado, uma vez que aconteceu mesmo atrás dele.
A BORA não tem Martínez em boa forma e perderam Hindley, o que é uma péssima notícia para eles quando a corrida entrar nos Alpes na próxima semana. A UAE vai estar em vantagem, sem dúvida. Este acidente tem um grande impacto na corrida, tal como o da etapa 1, e foi o ponto alto do dia. Richard Carapaz também esteve envolvido e ficou algo maltratado, sinto que pode ter um mau dia amanhã.
No final, vimos a Visma a trabalhar demasiado, penso eu, e a Alpecin aproveitou-se disso para colocar todos sob pressão com aquele ataque tardio... Pressionado, Wout van Aert foi em frente em vez de se concentrar no lançamento do sprint. Olav Kooij foi completamente bloqueado no sprint e foi um dia perdido para uma equipa que trabalhou tanto...
O Kaden Groves foi o mais rápido e penso que teria sido difícil, em qualquer circunstância, ser derrotado. Ele foi muito mais rápido do que os outros e penso que ninguém pode ficar zangado por ter perdido a vitória aqui.
A ausência de tempos da geral foi compreensível, embora francamente não houvesse necessidade, a neutralização aconteceu devido ao caos no momento da queda. A falta de pontos para a classificação por pontos na meta foi, na minha opinião, sem sentido. Foi um sprint de grupo sem o líder da classificação para o qual todos estes ciclistas estariam a competir, o que é um disparate!

Felix Serna (CyclingUpToDate)

Decisão muito controversa por parte dos comissários, mais uma vez. Claro que a segurança dos ciclistas é (ou deveria ser) a prioridade, e compreendo que os júris tenham considerado que o estado das estradas naquele momento, somado à situação climatérica e à queda maciça que afetou uma boa parte do grupo, impedia que a corrida continuasse como se nada tivesse acontecido.
No entanto, não compreendo a decisão final: os tempos para a classificação geral não contam, o quilómetro Red Bull não conta, não há pontos para a Maglia Ciclamino na chegada, não há ciclistas fora do tempo limite... mas há uma vitória de etapa. Por outras palavras, os comissários não consideraram que havia perigo suficiente para anular a etapa, mas anularam os tempos da geral.
Os ciclistas que lutavam pela etapa num sprint coletivo não estavam em perigo, mas os que iam para a classificação geral estavam? Qual é o objetivo de não atribuir pontos para a Maglia Ciclamino quando há um sprint de grupo no final? Se a vitória da etapa pudesse ser disputada, não creio que houvesse qualquer razão para que os tempos da classificação geral não contassem. Ou se pedala ou não se pedala, não deve haver um meio-termo.
Como Javier Ares disse no Eurosport durante a corrida, esta decisão é apenas uma decisão conservadora que garante que ninguém se queixa no pelotão. Os ciclistas da geral ficarão satisfeitos por não terem de lutar para permanecer no pelotão e correr riscos, enquanto os sprinters ficarão satisfeitos por terem a possibilidade de lutar pela vitória.
Decisão salomónica que evita também o cancelamento da etapa, agradando aos patrocinadores e à cidade de Nápoles, que provavelmente pagou uma boa quantia de dinheiro para acolher a chegada de hoje.

Ondřej Zhasil (CyclingUpToDate)

Vi discussões acaloradas sobre se Moschetti deveria ou não ser relegado no sprint de hoje, mas, em última análise, estou do lado da decisão do júri da corrida de desclassificar o sprinter Q36.5. Mas o elogio acaba aqui.
Há dois dias, recordamos que Kanter foi desclassificado alegadamente por se ter atravessado à frente de um adversário. Uma coisa é que, se essa regra fosse aplicada de forma consistente, teríamos de desclassificar metade dos sprinters em cada etapa. Por outro lado, o facto de o movimento perigoso - Kanter ter cortado um ciclista da Alpecin enquanto encostava em Pedersen - ter sido completamente ignorado.
Isto leva-me ao dia de hoje, quando Kanter quase foi abalroado por um ciclista da Tudor (Zijlaard) que se desviou juntamente com Moschetti. O júri justificou-se que ele estava "apenas a seguir" e, por isso, não aplica qualquer castigo.
Zijlaard não foi obrigado em momento algum a ir para a esquerda e a pôr em perigo os outros ciclistas, mas fê-lo. Teve sorte por Kanter ter espaço suficiente à sua esquerda para evitar o contacto... Penso que o júri continua a esquecer que a sua função não é apenas punir o que é mostrado repetidamente na televisão...

Carlos Silva (CiclismoAtual)

O início da etapa deixou-me entusiasmado, com alguns ataques que pareciam fortes. No final, o fogo de artificio resumiu-se à fuga de apenas dois homens. Mas foram fugitivos duros de roer. Venderam cara a etapa, andando mais de 200 quilómetros em fuga, apesar das circunstancias de corrida.
O dia ficou marcado por duas quedas brutais. Muitos homens no chão, alguns ciclistas importantes foram ao asfalto. Veremos que consequências físicas terão nos próximos dias com as montanhas e o desenrolar da corrida.
A organização terá tomado a decisão correta em anular a etapa? Julgo que não. Porquê? Porque uma corrida de ciclismo é decidida por vários fatores e a chuva é uma componente. Há ciclistas que adoram correr à chuva e poderiam ter vantagem. Se param por causa das estradas estarem molhadas, corremos o risco de ver corridas canceladas porque está a chover.
O ano passado na Vuelta com temperaturas acima dos 40 graus ninguém quis saber dos atletas. Dois pesos e duas medidas? Se não tivesse havido a queda, teria sido mais uma etapa monótona e mais uma vez sem sal. Porque é que a UCI aumentou o número de equipas nas Grandes Voltas? Afinal, a competitividade e a emoção são as mesmas. Foram 227 quilómetros de corrida aborrecidos. Como adepto esperava mais, muito mais.  
E você? O que pensa sobre tudo o que aconteceu hoje? Deixe um comentário e junte-se à discussão!
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