Bart Wellens, antigo campeão do mundo de ciclocrosse, expressou grande preocupação com o estado psicológico de
Eli Iserbyt, que enfrenta mais um duro contratempo na sua longa tentativa de regressar à competição. O belga, que foi operado quatro vezes às artérias ilíacas este ano, viu o seu tão aguardado regresso travado por novas complicações, obrigando-o a afastar-se novamente da bicicleta.
Segundo Wellens, a situação do ciclista da Pauwels Sauzen - Altez Industriebouw "corre o risco de se tornar um inferno para o atleta", refletindo o enorme peso mental que este tipo de revezes acarreta.
"O que Eli está a viver é o inferno de um atleta"
Na sua coluna no Het Nieuwsblad, Wellens falou com empatia e experiência própria sobre o que Iserbyt está a viver. "Uma vez, fechei-me a tudo e a todos durante um período difícil, e isso deixou-me profundamente deprimido", recordou. "Só quando me dispus a falar com os outros sobre os meus problemas é que comecei a sentir-me melhor".
O ex-campeão quis deixar uma mensagem clara de alerta. "O que Eli está a viver neste momento é o inferno de um atleta. Essa incerteza deve pesar incrivelmente. Espero que ele tenha as pessoas certas à sua volta com quem falar".
Iserbyt não compete desde 16 de fevereiro
Um futuro em suspenso: "Não devemos pensar num regresso rápido"
A mais recente recaída de Iserbyt aconteceu poucas semanas antes do previsto regresso à competição, no Superprestige Jaarmarktcross Niel, a 11 de novembro. Contudo, os sintomas voltaram a manifestar-se durante os treinos, forçando-o a interromper novamente a preparação e a submeter-se a novos exames médicos em Gante.
O treinador da equipa, Jurgen Mettepenningen, já avisou que os adeptos não devem esperar um regresso próximo, descrevendo a situação como "mais pessimista do que otimista".
Com 28 anos, Iserbyt enfrenta um momento decisivo da carreira. Depois de dominar o início da época de inverno anterior, viu o seu rendimento ser travado pelos problemas vasculares. Agora, para além das limitações físicas, luta com a incerteza sobre o futuro: se voltará ao mesmo nível, ou mesmo se voltará a competir.
Wellens teme que o maior obstáculo possa ser psicológico. "Ele já parecia estar a ter dificuldades depois das primeiras cirurgias e agora vem esta", afirmou. "Será que ele vai regressar esta época, será que vai poder voltar a correr e a que nível? São perguntas que lhe passam pela cabeça. Espero que haja pessoas prontas para o ajudar a ultrapassar este período negro".
Um pelotão solidário com o seu guerreiro
Eli Iserbyt é há várias temporadas uma das figuras centrais do ciclocrosse mundial. O seu estilo combativo, consistência e capacidade de luta tornaram-no um dos pilares da modalidade. A sua ausência já se faz sentir no arranque do inverno, e a incerteza sobre o seu regresso trouxe um tom de preocupação a todo o pelotão.
Bart Wellens resumiu o sentimento que atravessa o mundo do ciclocrosse: "Esta é uma gota muito grande num balde que já estava bastante cheio".
Por agora, Iserbyt mantém-se focado na recuperação e nos exames médicos, procurando a serenidade necessária para enfrentar o que poderá ser o maior desafio da sua carreira. A mensagem de Wellens, vinda de quem conhece a dureza da modalidade e os seus fantasmas, ecoa como um lembrete de humanidade: mesmo os mais fortes não estão imunes à vulnerabilidade.