Vinte e quatro horas depois de brilhar em Koppenberg e dominar o mundo do ciclocrosse,
Thibau Nys viveu em Lokeren o outro extremo da modalidade, o da frustração, da mecânica rebelde e do puro sofrimento.
O campeão europeu viu a sua corrida arruinar-se no Rapencross com uma sucessão de problemas técnicos que o empurraram para uma tarde de sobrevivência, e não de glória.
No sábado, Nys tinha vencido com autoridade e serenidade. No domingo, tudo se desfez: falhas no cockpit, várias trocas de mota, guiadores desalinhados e uma queda na areia transformaram o prodígio belga num retrato de desespero e incredulidade.
“Entrei na box para trocar um pneu mais leve e cinco metros depois as minhas mudanças caíram”, explicou Nys ao
VTM Nieuws. “Depois voltei a mudar e fiquei com uma bicicleta com o guiador torto. E depois de outra mudança, o selim caiu. Foi uma série de circunstâncias. Por duas vezes consegui ripostar, mas à terceira foi demais.”
A queda na secção de praia selou o seu destino: Nys terminou em 15.º lugar, a mais de três minutos do vencedor, longe da imagem dominante que tinha mostrado em Koppenberg.
Sven Nys assume a culpa
O seu pai e chefe de equipa,
Sven Nys, não fugiu à responsabilidade pelo problema no cockpit que despoletou a catástrofe.
“As mudanças de velocidades caíram algumas vezes. Trabalhei na mota hoje, por isso a responsabilidade era minha. Limámo-las para remover o deslizamento, mas não foi suficiente. Precisamos de colocar algo por trás para que se mantenham no lugar mesmo quando ele coloca todo o peso sobre elas.”
Apesar do tom crítico no circuito, o jovem belga garantiu que o incidente seria resolvido com serenidade.
“Precisamos de falar sobre isto esta noite. Isso vai mesmo acontecer”, disse, já mais calmo após o final.
O contraste entre o brilho de sábado e a desordem de domingo foi absoluto, uma prova viva de que no ciclocrosse a fronteira entre o triunfo e o desastre pode ser de apenas 24 horas.
Nieuwenhuis responde com vitória e liderança
Enquanto Nys lutava contra a mecânica,
Joris Nieuwenhuis transformava a frustração de Koppenberg numa exibição de força e recuperação. O holandês superou Michael Vanthourenhout para vencer o Rapencross de Lokeren e, com isso, assumir a liderança geral do
Troféu X2O.
“Ontem tive muitas dúvidas, porque perder três minutos pareceu-me muito”, admitiu. “O meu objetivo este ano é ganhar uma classificação, por isso estou feliz por ter ‘voltado’. Esta vitória significa mais para mim do que em Heerde, porque é uma corrida de classificação.”
Depois de um arranque na segunda fila, Nieuwenhuis foi subindo posições até encontrar o momento decisivo.
“Quando cheguei à frente, vi o Michael cometer um erro. Depois, afastei-me”, explicou.
O holandês, visivelmente mais confiante, vê a vitória como o impulso ideal antes do Campeonato da Europa em Middelkerke, uma corrida que poderá marcar o seu próximo grande objetivo.
“Ontem começámos a duvidar um pouco. Depois, fico feliz por ter conseguido dar a volta à situação. Isso ajuda a ganhar confiança. Treinei muito na areia em Middelkerke, por isso espero que isso ajude.”
O contraste perfeito: o inferno e o céu do ciclocrosse
O fim de semana de Lokeren e Koppenberg foi o espelho perfeito da natureza imprevisível do ciclocrosse.
Em apenas 24 horas, Thibau Nys passou da exuberância ao desespero, enquanto Joris Nieuwenhuis fez o caminho inverso, encontrando na lama e na persistência o prémio da liderança.
Entre a glória de um e a frustração do outro, o Troféu X2O ganhou uma nova narrativa, e Middelkerke promete ser o palco onde ambos poderão redefinir o equilíbrio.