O mais recente episódio do podcast The Move, conduzido por
Johan Bruyneel e Spencer Martin, girou em torno de uma polémica inesperada: a alegada ausência de
Tadej Pogacar da
Volta a França de 2026. O rumor surgiu após declarações de Patrick Evenepoel, pai de Remco Evenepoel, que insinuou que o esloveno poderia abdicar do Tour para tentar a raríssima dobradinha Volta a Itália - Volta a Espanha.
“A Volta a França de 2026 parecia perfeita para Pogacar”, comentou Martin. “Depois o pai de Remco aparece e diz que tem informações secretas, que Tadej não vai fazer o Tour e vai antes tentar a dobradinha Giro-Vuelta, a verdadeira pérola do desporto. Que informação secreta é essa? Não pode ser verdade, porque Pogacar ganha provavelmente 15 milhões de dólares por ano para correr e vencer a Volta a França com a sua equipa.”
A frase de Patrick Evenepoel correu rapidamente pelas redes sociais, mas Bruyneel desvalorizou completamente a hipótese, considerando-a uma má interpretação de uma conversa informal.
“Eu vi a entrevista. As coisas são constantemente retiradas do contexto. Patrick não disse que tinha ouvido que Pogacar não ia fazer o Tour. Foi uma troca de palavras. E logo depois, Matxin [diretor da UAE Team Emirates - XRG] corrigiu, deixando claro que não há absolutamente nenhum plano ou intenção de Pogacar falhar a Volta a França”, esclareceu o belga.
“Talvez se ele disser muitas vezes, o Pogacar pense nisso”
Martin ironizou sobre o impacto das declarações de Evenepoel, pai.
“Talvez seja uma boa ideia. Se o Patrick disser isto vezes suficientes, o Pogacar vai pensar: ‘Talvez eu não deva ir’”, brincou.
Bruyneel, contudo, manteve a serenidade.
“Acho que o Tadej não se preocupa muito com o que o pai do Remco diz. Mas é um exemplo perfeito de como algo pode ser distorcido e retirado do contexto”, afirmou.
O ex-diretor da U.S. Postal reforçou ainda que, se Pogacar vencer novamente em 2026, atingirá a marca simbólica de cinco triunfos, juntando-se ao restrito grupo de lendas que conquistaram o Tour cinco vezes. “Seria impensável abdicar disso”, resumiu.
De Pogacar a Lazkano: o outro tema quente do episódio
A conversa desviou-se depois para o caso de dopagem de
Oier Lazkano, que recentemente abalou o pelotão. O espanhol foi suspenso após valores anómalos no passaporte biológico, levando à rescisão imediata com a Red Bull - BORA - hansgrohe.
Para Bruyneel e Martin, o caso é um reflexo da eficácia do sistema de controlo da UCI, ainda que, ironicamente, venha de alguém cuja própria carreira ficou marcada por escândalos de dopagem.
Martin destacou a evolução do controlo antidopagem:
“Há coisas como o gás xénon, que qualquer pessoa pode usar e que são incríveis, dá para subir o Evereste sem aclimatação. Mas mesmo que não se teste positivo, seria quase impossível escapar hoje. Isto prova que o sistema funciona e que é difícil fugir aos controlos.”
Bruyneel: “Acredito que a Movistar não sabia de nada”
Bruyneel acrescentou que a Movistar Team, antiga equipa de Lazkano, não tinha provavelmente conhecimento da situação, e que a UCI agiu com base em valores monitorizados entre 2022 e 2024.
“Acredito que a Movistar não foi informada. Se a UCI diz que aconteceu entre 2022 e 2024, é porque seguiu certos valores: hematócrito, hemoglobina, hormonas… seja o que for. Lazkano deve ter apresentado explicações, mas elas não foram aceites. Está suspenso provisoriamente, mas é quase certo que vai acabar numa suspensão definitiva.”
O belga elogiou a ferramenta que, paradoxalmente, ajudou a expor tantos casos:
“O passaporte biológico é uma boa ferramenta. Existe desde 2008 e foi sendo aperfeiçoado. É curioso ver que agora conseguem usar isso para sancionar atletas.”
Oier Lazkano não compete desde o Paris-Roubaix, em abril
“Nunca apanha os grandes campeões”
Bruyneel, no entanto, deixou uma observação crítica sobre o sistema, sublinhando a diferença entre os ciclistas de topo e os restantes.
“O que realmente me chama a atenção é que normalmente quem é apanhado pelo passaporte biológico são ciclistas de segundo plano. Nunca grandes nomes com muito dinheiro. Porque se alguém com bons advogados e tempo contestar o processo, o caso cai. Há uma razão para nunca termos visto um campeão com muitos recursos ser sancionado assim.”
O podcast que continua a incomodar
O episódio mais recente de The Move reflete bem o tom do projeto de Bruyneel e Martin: um espaço de debate livre, provocador e sem filtros sobre o que se passa no pelotão. Entre o rumor mediático de Pogacar e a reflexão sobre o caso Lazkano, o programa voltou a equilibrar polémica e análise, um registo que continua a gerar tanto interesse como desconforto dentro do ciclismo profissional.