O ciclocrosse vive um momento crítico nos Estados Unidos. As tradicionais rondas da Taça do Mundo deixaram de se realizar no país, os financiamentos migraram para o gravel e muitos dos melhores corredores abandonaram a disciplina de inverno. O cenário é tão preocupante que o campeão nacional,
Andrew Strohmeyer, admite competir sem receber qualquer salário, uma realidade que chocaria em qualquer país, mas especialmente naquela que, há poucos anos, acolheu os Campeonatos do Mundo de ciclocrosse.
Fuga para o gravel… e falta de apoio federativo
Segundo Strohmeyer, a mudança não é apenas cultural, é também económica.
“Chegou ao ponto de tantos jovens talentos americanos abandonarem o ciclocrosse porque detestam não conseguir fazer carreira. Todo o prémio monetário está também no gravel. Não é uma modalidade olímpica, claro, mas é algo novo e isso, pelos vistos, atrai.”
Mesmo com apenas 23 anos e talento reconhecido, confessa que ponderou seguir o mesmo caminho.
“Não recebo salário, infelizmente. Aliás, nenhum corredor americano recebe. Tenho alguns patrocinadores individuais que me dão algum dinheiro, mas é tudo. Por isso, o meu maior objetivo esta época é conseguir bons resultados aqui para ser contratado por uma equipa europeia. Isso muda tudo. Vou mesmo prescindir dos campeonatos americanos para ficar aqui todo o inverno.”
Aponta responsabilidades diretamente à federação americana, acusando-a de priorizar modalidades mais recentes:
“Por exemplo: não se pode ganhar prémios monetários em nenhum campeonato nacional na América, e isso já acontece há anos. Mas agora, para o gravel, de repente estão a ser alocados mais de 12.000 dólares. Absurdo. Isso vai, definitivamente, afastar pessoas do ciclocrosse.”
Desaparecimento das Taças do Mundo nos EUA
Rondas históricas como Waterloo e Fayetteville já não fazem parte do calendário. A redução do número de provas e as limitações logísticas e financeiras têm afastado eventos internacionais do país.
“No fim de contas, a Taça do Mundo são apenas um, ou no máximo dois, dias por ano. Claro que era ótimo poder correr perto de casa, mas não sei se isso acrescenta valor às restantes rondas. O que nos faria realmente avançar era o sucesso de um americano nas Taças do Mundo europeias.”
Segundo Strohmeyer, a estrutura competitiva nos EUA também prejudica os atletas. O calendário está demasiado concentrado entre setembro e novembro, o que provoca picos de forma prematuros para quem tenta competir na Europa.
“Já estamos a passar o pico de forma quando a Taça do Mundo começa.”
Este ano tentou uma abordagem diferente: competiu nas principais corridas americanas mantendo treino de base para atrasar o pico de forma até ao Natal e aos Campeonatos do Mundo.
A aposta resultou: venceu a Trek Cup, conquistou os Campeonatos Pan-Americanos, superando Eric Brunner, foi 12.º na Taça do Mundo de Tabor, à frente de Pim Ronhaar, Toon Vandebosch e Felipe Orts
Vai agora prolongar a permanência na Europa com o objetivo claro de assinar por uma equipa europeia e competir a tempo inteiro.
Um futuro construído longe de casa?
“Treinei uma vez com o Sven Nys no bosque, e percebe-se, numa única sessão, como se impelam mutuamente a melhorar. Se pudesse fazer isso todas as quartas-feiras à tarde, só poderia evoluir ainda mais. Um pouco como o Cameron Mason fez com os irmãos Roodhooft”, sublinhou.
Para Strohmeyer, a internacionalização é vital para o futuro do ciclocrosse.
“Esperemos que consiga. Ter corredores de várias nacionalidades na frente e em equipas de topo só pode ajudar a modalidade a expandir-se e crescer, certo? Quanto mais internacional, melhor.”