A saída de
Juan Ayuso da
UAE Team Emirates - XRG continua a dominar a narrativa da
Volta a Espanha 2025, com antigos ciclistas e atuais comentadores a questionarem a forma como a equipa geriu o processo.
Alberto Contador e Eduardo Chozas, vozes habituais no Eurosport em Espanha, analisaram o tema e concordam que o anúncio da separação a meio da corrida foi um erro que acabou por alimentar ainda mais a polémica.
Contador: “Quando há tantos galos para o mesmo poleiro, é normal que hajam conflitos”
Questionado no programa La Montonera sobre a presença de Ayuso nesta Vuelta, Contador admitiu que a situação podia ter sido evitada:
“Não sabemos se o acordo já estava feito antes da corrida, se era algo amigável ou não. Mas imagino que, se já estava em curso, não o trariam para a Vuelta. Ele podia ter feito um calendário alternativo sem esta carga de polémicas”, observou.
Para o madrileno, o anúncio oficial foi precipitado pela onda de rumores:
“Isto tornou-se demasiado grande, já não conseguiam controlar a situação e foram obrigados a dar a notícia. O problema é que Ayuso não consegue ficar calado. Roglic saiu a mal da Visma, mas é diferente, nunca fazia barulho. Ayuso fala sempre, e isso gera conflitos”.
Contador recordou a sua própria experiência no Tour de 2009, em conflito interno com Armstrong, para sublinhar que a gestão de egos é decisiva:
“Nos primeiros anos aceitas estar ao serviço de alguém, mas quando já estás ao nível desse líder ou até melhor, é natural querer um projeto atrativo. E quando tens tantos campeões juntos, todos eles número um nas suas categorias de formação, é inevitável que haja faíscas. Penso que este não será o último problema que a Emirates vai enfrentar”.
João Almeida e Juan Ayuso junto a Tadej Pogacar no Col du Galibier, Volta a França de 2024.
Chozas: “O erro foi a forma da comunicação”
Também no Eurosport, Eduardo Chozas identificou a origem da tensão mais atrás no tempo:
“A história começa no Tour do ano passado, na etapa do Galibier, quando houve aquele desacordo entre Almeida e Ayuso. A partir daí, foi sempre um rumor constante. A gota de água foi no Giro com Del Toro. Ayuso não fez uma boa corrida, acabou por desistir, mudou de treinador e começou a preparar a saída. O acordo chegou recentemente”.
Para o ex-ciclista, a direção da UAE falhou na comunicação:
“Não é bom lançar uma declaração destas num dia de descanso, a meio da Vuelta, e ainda por cima com tantos pormenores. Deviam ter feito algo curto e neutro: ‘Chegamos a acordo, vamos separar-nos em 2026, desejamos o melhor’. Ponto final. Assim, expuseram demasiado o ciclista e alimentaram toda esta polémica”.
Uma Vuelta ofuscada pela novela Ayuso
Apesar de ainda faltar meia corrida, a novela em torno de Ayuso tem ofuscado a luta pela camisola vermelha. O espanhol já garantiu uma vitória de etapa, mas a sua relação com João Almeida e com os diretores continua sob escrutínio.
Contador e Chozas concordam: a separação era inevitável, mas a forma como foi gerida fragilizou tanto o ciclista como a equipa e deixou no ar a sensação de que este poderá ser apenas o primeiro de vários conflitos internos num plantel carregado de talento e ambição.