Quando
Tom Boonen venceu o
Campeonato do Mundo há duas décadas atrás, o lendário belga tinha apenas recentemente despontado entre os profissionais. E após um programa de preparação irregular para o Campeonato de 2005 em Madrid, com uma queda a obrigá-lo a abandonar a Volta a França, poucos depositavam grandes esperanças no homem rápido que já tinha ganho (a sua primeira) Volta à Flandres e o Paris-Roubaix nesse mesmo ano.
"Essa queda transformou-me em campeão do mundo. Absolutamente", reflete Boonen sobre o que poderia ter acontecido se tivesse concluído toda a corrida numa reportagem para
Sporza. "Nunca fui do tipo que beneficia ao terminar uma Grande Volta. Se tivesse concluído aquele Tour e depois, também uma parte da Vuelta, sei que ganhar em Madrid não teria sido possível".
Boonen acredita que o facto de ter menos dias de competição lhe deu uma vantagem extra sobre os seus adversários. "Eu ainda estava super fresco, enquanto que outros competidores já estavam exaustos. Depois de desistir, ainda tinha um objetivo antes do Campeonato do Mundo e tive bastante tempo".
Após abandonar o Tour, Boonen competiu na Vuelta durante quase duas semanas completas, mas não venceu nenhuma etapa. Não causou uma grande impressão. "Mas obtive a sensação certa na altura certa".
Antes da décima quarta etapa, Boonen decide não começar a corrida. Entretanto o seu principal rival Alessandro Petacchi, que já tinha vencido cinco etapas naquela Vuelta, continuou até Madrid e depois sofreu um revés na semana seguinte. "Essa foi a grande diferença: ele queria ganhar tudo, enquanto que eu via a Vuelta como uma preparação. Sentia-me fantástico nos dias que antecederam o Campeonato do Mundo. Eu já era maduro o suficiente para perceber que com aquela sensação, estaria na luta pelos prémios".
Mas não foram apenas as rivalidades entre ciclistas que dominaram as notícias nos dias antecedentes à corrida de 2005. O diretor de equipa de Boonen,
Patrick Lefevere, sempre envolvido, criticou abertamente a seleção do treinador nacional José de Cauwer alguns dias antes da corrida. A sua principal preocupação era a falta de ajudantes dedicados para a grande estrela da sua equipa, Tom Boonen.
"Patrick achou que eu não tinha colegas de equipa suficientes comigo, mas não me deixei perturbar por isso nem por um segundo. Deixei-os fazer o que sempre fazem: reclamar, queixar-se, e no final tudo acabou bem. A sua pequena guerra? Eles nunca fizeram nada mais do que isso, pois não? São dois indivíduos arrogantes, e Patrick divertia-se, especialmente quando José reagia. Mas José provou estar certo".
Boonen sabia que podia contar com alguns homens do Lotto, não obstante da grande rivalidade com a Quick-Step na altura. "Eu dava-me bem com rapazes como Mario Aerts e Peter Van Petegem. Recebi garantias de que eles correriam por mim e isso foi suficiente. Nunca pensei que haveria algum problema do lado deles".
Em última análise, havia um pouco de verdade nos medos de Lefevere quando Björn Leukemans e Nick Nuyens tentaram buscar a própria glória. Por pouco tempo. "Houve algumas lutas dentro da equipa, mas não do meu lado. Eu tinha um grupo à minha volta em quem confiava. Eles eram muito ambiciosos para as suas próprias carreiras e foram além do planeado, mas isso faz parte", sorriu.