O percurso da
Volta a França 2026 continua a provocar reações intensas no pelotão e entre as figuras históricas do ciclismo. Desta vez, foram dois nomes de peso.
Cadel Evans, vencedor da edição de 2011, e Stuart O’Grady, vencedor da Paris-Roubaix 2007, a analisarem o novo percurso. Ambos concordam num ponto essencial: a corrida será brutal, imprevisível e feita à medida de
Tadej Pogacar.
“Não se pode fazer o Tour à prova de Pog”, avisou Evans.
“As diferenças de tempo serão enormes, talvez
Remco Evenepoel também esteja lá.”
Um percurso sem margem para hesitação
Em declarações à
Canadian Cycling Magazine, Evans destacou a exigência extrema de um percurso que começa em Barcelona e termina com duas ascensões consecutivas ao Alpe d’Huez. O australiano considera que a edição de 2026 vai castigar qualquer erro de gestão física ou tática desde o primeiro dia.
“A partir do primeiro contrarrelógio por equipas, os candidatos à classificação geral terão de dar o seu melhor imediatamente”, explicou.
“É uma primeira semana difícil e uma reta final brutal com duas chegadas ao Alpe d’Huez, o que é raro. Vai ser difícil controlar a liderança e ainda mais difícil defendê-la.”
Evans acredita que o último bloco alpino será o momento decisivo da corrida, especialmente a 20.ª etapa, considerada por muitos a mais dura da história recente.
“A última etapa tem 5.600 metros de desnível, provavelmente a etapa de montanha mais dura de que há memória. Quando se torna assim tão difícil, os ciclistas que estão na frente ainda estarão a voar e os outros serão zombies ambulantes. Em vez de perderem dois ou três minutos, vão perder quinze.”
“De Barcelona a Paris, não há refúgio”
O antigo campeão mundial apontou ainda a Etapa 6 (Pau - Gavarnie-Gèdre) e a Etapa 14 (Mulhouse - Le Markstein Fellering) como jornadas-chave para definir o rumo da corrida. Elogiou também a escolha de Barcelona como palco da Grande Partida, chamando-lhe um “cenário espetacular”, mas alertou que o encanto se esgota rapidamente:
“Depois da festa inicial, o que se segue é puro sofrimento”, resumiu.
O compatriota Stuart O’Grady fez eco do alerta, sublinhando que o percurso de 2026 será “explosivo desde o primeiro quilómetro”.
“Não nos podemos esconder, temos de lutar de Barcelona a Paris. Subir duas vezes o Alpe d’Huez pode destruir as pernas e decidir o Tour.”
O contrarrelógio por equipas também divide opiniões
Ambos os australianos comentaram ainda a decisão da organização de cronometrar individualmente o primeiro contrarrelógio por equipas, um formato inédito no Tour mas já testado no Paris-Nice 2024.
“É uma forma de destruir o espírito do contrarrelógio por equipas, mas é mais justa em alguns aspetos”, avaliou Evans.
“Tenho um fraquinho por contrarrelógios coletivos, mas este vai ser algo diferente”, acrescentou O’Grady.
A mudança promete alterar as dinâmicas táticas logo no primeiro dia, favorecendo equipas com líderes fortes e menos dependentes de blocos homogéneos, mais uma vantagem para Pogacar e a UAE Team Emirates - XRG.
O parque de diversões de Pogacar
Para Evans, o traçado de 2026 parece quase desenhado à medida do quatro vezes vencedor da Volta a França e atual campeão do mundo de estrada. O percurso recompensa os ciclistas completos, consistentes e mentalmente resilientes, precisamente o perfil que Pogacar tem demonstrado ao longo dos anos.
“Não se pode tornar o Tour à prova de Pog”, insistiu Evans.
“Quando a corrida é tão dura, os melhores ganham cada vez mais tempo. Este percurso vai ampliar as diferenças e confirmar quem está num patamar acima.”
O australiano acredita que Remco Evenepoel poderá ser o único com capacidade para se aproximar, mas duvida que o belga consiga acompanhar Pogacar na montanha.
“Remco pode lutar nos contrarrelógios, mas este Tour é para quem aguenta três semanas sem falhar. E, neste momento, só há um homem que domina essa arte.”
Conclusão
Entre o entusiasmo e o aviso, a análise dos dois australianos é clara: o Tour de 2026 será um teste físico e psicológico extremo, onde Tadej Pogacar parte como favorito destacado. De Barcelona ao Alpe d’Huez, cada etapa exigirá concentração absoluta, e qualquer hesitação poderá custar minutos preciosos.
Como resumiu Cadel Evans, o homem que há catorze anos levou a Camisola Amarela para a Austrália:
“Neste Tour, quem piscar os olhos, perde.”