“Nada acontece até aos últimos cinco quilómetros”: Zonneveld acusa o Tour 2026 de falta de ousadia

Ciclismo
domingo, 26 outubro 2025 a 18:00
Onley, Vingegaard e Pogacar em destaque
A revelação do percurso da Volta a França 2026 não convenceu Thijs Zonneveld. O antigo ciclista profissional e atual analista do AD Sportwereld deixou duras críticas ao percurso desenhado por Christian Prudhomme e Thierry Gouvenou, acusando a organização de ter “jogado pelo seguro” e de ter criado uma semana final de montanha sem tensão nem imaginação.
“No ano passado, cada etapa podia ir em qualquer direção. Isso foi completamente abandonado agora”, lamentou Zonneveld.
O holandês de 45 anos, conhecido pelo seu tom direto e incisivo, considera que o novo percurso “tira a alma competitiva ao Tour” e que, mesmo com as subidas emblemáticas, a estrutura geral é demasiado previsível.

“A 18ª etapa é uma verdadeira desgraça”

A crítica mais dura foi dirigida à 18ª etapa, entre Gap e Orcières-Merlette, oficialmente classificada como uma etapa de montanha. Para Zonneveld, o perfil dessa etapa “não tem nada de montanhoso”.
“A 18ª etapa é, na minha opinião, uma verdadeira desgraça”, afirmou. “Chamam-lhe uma etapa de montanha, mas é apenas uma versão ligeira de um dia de subida. Dois ou três por cento durante horas, depois cinco, e a última subida tem uma média de talvez seis. Pode subir-se no prato grande a 35 quilómetros por hora.”
Zonneveld recordou o exemplo da edição de 2020, quando Primoz Roglic venceu no mesmo alto sem grandes diferenças para os adversários.
"A Jumbo arrancou do fundo como se fosse uma fuga e ainda havia uns quinze ciclistas juntos no topo. Sinceramente, não percebo porque é que se acrescentam etapas como esta”, criticou.

Um erro de timing e de conceito

Na opinião do analista, o problema não é a falta de montanha, mas a sequência e intensidade das etapas decisivas.
“Se esta etapa estivesse no início da corrida, eu aceitava. Nessa altura, as diferenças ainda são pequenas. Mas colocá-la na última semana? Não faz sentido”, disse. “É simplesmente aborrecida, nada acontece até aos últimos cinco quilómetros.”
Para Zonneveld, o Tour 2026 inverteu a lógica do suspense, tornando-se uma corrida demasiado ordenada. “Quando o percurso é tão estável, ninguém se atreve a arriscar. Os ataques desaparecem e a corrida perde o seu caos natural.”

“Mesmo o Alpe d’Huez já não inspira”

Nem o regresso do Alpe d’Huez, incluído duas vezes no percurso, convence Zonneveld. Embora reconheça o valor histórico da subida, o analista acredita que o contexto de corrida em torno dela “carece totalmente de emoção”.
“Talvez o recorde de Marco Pantani se perca, mas essa é a única coisa excitante que pode acontecer. Se desenharmos uma etapa como esta, devemos pelo menos fazer algo dela”, argumentou.
Zonneveld lamenta que o Tour moderno esteja a tornar-se “demasiado arrumado, quase higiénico”, sacrificando o risco e o improviso que o tornaram imprevisível e apaixonante.

“Uma corrida sem coragem”

O veredito final do holandês é implacável: “Esta parece uma corrida sem coragem”, concluiu. Até as etapas rainhas parecem oportunidades perdidas.”
Zonneveld acredita que o Tour 2026 corre o risco de se transformar num exercício de gestão em vez de um espetáculo de ousadia. “O público quer ver falhas, ataques, risco. Este percurso foi desenhado para evitar tudo isso”, resumiu.
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