A transferência de
Remco Evenepoel para a
Red Bull - BORA - hansgrohe acabou com uma das relações mais intensas e discutidas do ciclismo moderno. Depois de anos de especulação e de tensões internas, o belga deixa a
Soudal - Quick-Step, uma decisão que segundo
Axel Merckx, “ esteve sempre no horizonte”.
“Este casamento estava destinado a acabar em separação. Penso que ambas as partes tiraram dele o que podiam”, afirmou Merckx ao La Dernière Heure.
Uma era de sucesso e fricção
Durante a sua passagem pela Quick-Step, Evenepoel construiu um palmarés notável: ganhou a Volta a Espanha, foi bicampeão do mundo de contrarrelógio e venceu múltiplas provas de uma semana, consolidando-se como um dos talentos mais completos da sua geração.
Mas, segundo Merckx, os sinais de que a relação estava a chegar ao fim eram claros. “A partir de certas declarações e intenções, era evidente que estava a ser preparada uma saída”, explicou. “A equipa evoluiu e as ambições de Remco também cresceram.”
Para o antigo ciclista, o momento decisivo ocorreu quando a liderança da estrutura passou das mãos de
Patrick Lefevere para Jurgen Foré, marcando o fim de uma era. “Foi um sinal claro de mudança. A estrutura tornou-se diferente e o projeto que tinha sido construído em torno de Remco assumiu uma nova forma. A longo prazo, a separação era inevitável.”
A limitação estrutural da Quick-Step
Axel Merckx foi direto a um ponto fulcral: a Soudal - Quick-Step nunca foi, nem pretende ser, uma equipa moldada para vencer Grandes Voltas.
“Sem Vingegaard e Pogacar, ele poderia já ter ganho a Volta a França”, admitiu. “Mas a Quick-Step simplesmente não tem tradição de correr em Grandes Voltas. Isso é um facto e provavelmente nunca irá mudar.”
Historicamente especializada em Clássicas e etapas curtas, a estrutura de Lefevere sempre privilegiou o sucesso imediato ao longo prazo, exigido pelas Grandes Voltas. “A ambição do Remco em ganhar as três Grandes Voltas encaixa melhor noutras equipas, como a Red Bull, Visma ou INEOS. É aí que ele vai encontrar os pontos de referência de que precisa.”
O próximo capítulo
A mudança de Remco para a Red Bull - BORA - hansgrohe marca o início de uma nova fase na carreira do ciclista belga, que chega a uma equipa habituada a planear corridas de três semanas, com uma estrutura focada no desempenho nas montanhas e nos contrarrelógios.
Enquanto isso, a Soudal - Quick-Step enfrenta um período de transição, preparando-se para competir sem o homem que lhe deu o primeiro título de uma Grande Volta.
Para Merckx, esta separação não foi uma rutura abrupta, mas o desfecho previsível de uma relação que já tinha cumprido o seu ciclo. “Nunca acreditei que Remco passaria toda a carreira na Quick-Step. Era apenas uma questão de tempo até seguir o caminho que o seu talento exigia.”