Bradley Wiggins revela luta com dependência e momentos sombrios após deixar o ciclismo: "Estava a consumir montes de cocaína"

Ciclismo
terça-feira, 13 maio 2025 a 10:15
bradley wiggins
Bradley Wiggins, primeiro britânico a vencer a Volta a França e uma das figuras mais reconhecidas do ciclismo contemporâneo, falou com corajosa franqueza sobre os anos de dependência, dor emocional e crise pessoal que viveu desde que pendurou a bicicleta. Numa entrevista ao The Observer, o campeão da edição de 2012 descreveu um período sombrio da sua vida marcado pelo abuso de substâncias e pelo medo constante de que a sua família o encontrasse sem vida.
"Houve alturas em que o meu filho pensou que eu ia ser encontrado morto de manhã", confessou Wiggins. "Era um toxicodependente funcional. As pessoas não se apercebiam. Estive pedrado a maior parte do tempo durante muitos anos."
Aos 45 anos, o britânico admitiu que o seu consumo de cocaína atingiu um ponto alarmante, a tal ponto que os seus próprios filhos consideraram forçá-lo a procurar ajuda especializada. "Estava a consumir montes de cocaína. Tinha um problema muito grave. Os meus filhos iam pôr-me na reabilitação. Eu estava a andar na corda bamba."
O momento de viragem, segundo o próprio, chegou tarde, mas foi decisivo. "Apercebi-me de que tinha um problema enorme. Tinha de parar. Tenho sorte em estar aqui. Fui vítima das minhas próprias escolhas, durante muitos anos."
Refletindo sobre os padrões internos que o empurraram para o vício, Wiggins descreve o seu comportamento como uma forma de auto-sabotagem emocional. "Já tinha muito ódio de mim próprio, mas estava a amplificá-lo. Era uma forma de auto-mutilação. Não era a pessoa que eu queria ser. Apercebi-me de que estava a magoar muitas pessoas à minha volta."
Surpreendentemente, uma das figuras que lhe ofereceu apoio durante este período difícil foi Lance Armstrong, ciclista norte-americano que perdeu os seus sete títulos da Volta a França devido ao escândalo de doping. Armstrong, que já havia apoiado Jan Ullrich nas suas próprias batalhas contra o vício, também procurou ajudar Wiggins.
"Ele tinha passado por algo semelhante com o Jan. Tentaram contactar-me, mas não conseguiam descobrir onde eu estava. O meu filho falava muito com o Lance. Ele perguntava-lhe: 'Como está o teu pai?' E o Ben respondia: 'Não tenho notícias dele há duas semanas, sei que está a viver num hotel'."
"Não tinham notícias minhas durante dias. Agora posso falar sobre estas coisas com franqueza. Havia um elemento de mentira em mim, ao não falar sobre isso."
Wiggins explicou que a adição servia como fuga momentânea da dor com que vivia, embora nunca houvesse um meio-termo. "Não posso simplesmente beber um copo de vinho. Se bebo um copo de vinho, estou a comprar droga. A minha propensão para o vício estava a aliviar a dor com que vivia."
O britânico falou também sobre feridas não saradas da sua carreira, nomeadamente em torno do polémico "pacote misterioso", que lhe terá sido entregue durante os seus tempos como ciclista profissional e que despoletou anos de especulação. "Eu estava no olho da tempestade. Senti que algumas dessas perguntas precisavam de ser respondidas — e colocadas de parte — pelas pessoas que podiam fazê-lo. Como, por exemplo, ‘O que é que estava no pacote?’"
Quando questionado sobre se acredita que ainda há várias versões da história por esclarecer, Wiggins foi direto: "Há. Há um livro inteiro sobre isso. Adoraria saber, de uma vez por todas, o que realmente aconteceu."
A autobiografia de Bradley Wiggins, intitulada The Chain, será lançada no final deste ano. A obra promete oferecer um relato sincero e detalhado da sua queda, sobrevivência e legado, dentro e fora da bicicleta.
aplausos 0visitantes 0

Últimas notícias

Notícias populares

Últimos Comentarios