Alberto Contador, um dos nomes mais emblemáticos da história do ciclismo moderno e atual comentador no Eurosport Espanha, partilhou recentemente uma história insólita sobre os bastidores da sua carreira, num episódio do podcast Fred's Cycling Obsession. Conhecido pelas suas análises técnicas e pelas histórias curiosas que vai revelando, o madrileño contou uma situação surpreendente envolvendo uma marca de bicicletas durante os seus anos de competição.
“Já tive os meus problemas com algumas marcas. Não vou dizer qual, mas lembro-me que, antes do Tour, recebíamos um novo modelo, testávamo-lo e eu dizia: ‘Isto não funciona bem, não é rápido’”, começou por contar Contador, deixando claro o desconforto com a situação.
O espanhol referiu que a nova bicicleta, apesar de visualmente mais apelativa, era objetivamente inferior à versão anterior. "Disseram-me: ‘Alberto, este modelo é diferente, agora toda a cablagem é interna’. E eu respondi: ‘Sim, é mais moderno, mas anda mais devagar’. E então disseram-me: ‘Estamos conscientes disso, mas tens de competir com ela’."
Contador, obcecado pelo detalhe e pela procura incessante de ganhos marginais, mostrou-se incrédulo com a imposição da marca. “Estava a matar-me para melhorar tudo. Colava os orifícios do capacete, ajustava os bidões para oferecerem menos resistência ao vento, até fazia furos nas solas das sapatilhas para as tornar mais leves… E depois obrigavam-me a correr com uma bicicleta mais lenta".
O episódio teve consequências reais no seu desempenho. Na
Volta a Itália, contou, teve autorização para usar o modelo antigo, e venceu. Mas na
Volta a França, a história foi diferente. "Disseram-me: ‘Ou usas o novo modelo, ou o teu contrato e o da equipa com a marca são cancelados’. Não tive outra hipótese senão aceitar".
Sem referir datas concretas, tudo indica que se refere às temporadas de 2011 ou 2015, quando corria pela Saxo Bank. Em ambos os anos, Contador venceu a Volta a Itália e terminou em quinto na Volta à França - embora, em 2011, os seus resultados tenham sido mais tarde anulados.
Uma história que ilustra como, mesmo ao mais alto nível, o compromisso comercial pode por vezes sobrepor-se à performance pura, obrigando até os melhores do mundo a competir em desvantagem.