A 9ª etapa da
Volta a França prometia ser uma oportunidade perfeita para os sprinters e assim foi. Um dia sem subidas no perfil, mas com a ameaça constante dos ventos cruzados, obrigou o pelotão a manter-se em alerta permanente desde o quilómetro zero até à meta.
Quem deu espetáculo desde cedo foi a dupla da Alpecin-Deceuninck. Numa jogada ousada, Jonas Rickaert e
Mathieu van der Poel lançaram-se numa fuga de longa distância logo nos primeiros instantes da etapa, protagonizando uma aventura heróica que durou 170 quilómetros. O pelotão teve que suar para apanhar a dupla belga-holandesa, que manteve a chama da esperança acesa até aos metros finais.
Van der Poel, que demonstrou uma vez mais a sua versatilidade e espírito combativo, acabou por ser alcançado a apenas 500 metros da meta, depois de uma exibição que lhe valeu o reconhecimento dos adeptos e do pelotão. Foi um dos momentos do dia.
Na chegada, caótica como se esperava,
Tim Merlier aproveitou a oportunidade para se redimir do contratempo da véspera, onde um furo o impediu de disputar o sprint. Com uma aceleração fulminante, o belga da
Soudal - Quick-Step bateu por uma curta margem
Jonathan Milan, atual camisola verde, que não conseguiu repetir o sucesso da 8ª etapa. Arnaud de Lie fechou o pódio e deu sinais de retoma, num sprint onde faltaram nomes como Wout van Aert, afetado por um ataque da Visma que o apanhou mal posicionado.
A nota mais amarga do dia foi, sem dúvida, a desistência de
João Almeida. O português da
UAE Team Emirates - XRG tentou aguentar o máximo possível após a violenta queda na 7ª etapa, mas a fratura numa costela, aliada às dores crescentes e às dificuldades de mobilidade, acabaram por obrigá-lo a abandonar a corrida. A decisão foi tomada durante a etapa, depois de ficar para trás nos primeiros quilómetros. É um duro golpe para
Tadej Pogacar, que perde um dos seus principais aliados para as etapas de montanha.
Apesar da tensão provocada pelos ventos, o pelotão passou incólume em termos de quedas e dos homens da geral, apenas Geraint Thomas e Ben O'Connor cederam tempo. A UAE Team Emirates - XRG teve momentos de vulnerabilidade, com Tadej Pogacar visivelmente isolado durante parte da fase crítica, mas o campeão do mundo mostrou frieza e capacidade para se posicionar sozinho, mantendo intacta a sua liderança.
Tim Merlier chegou à 12ª vitória no ano
Carlos Silva (CiclismoAtual)
Ontem escrevi nesta coluna que, para mim, Jonathan Milan ganhou mas não convenceu. Que tinha ganho a etapa mas não era o melhor sprinter da Volta a França. Escrevi que ele não ganharia hoje e... não ganhou a etapa. Milan é uma potência, é jovem, está numa boa equipa. Mas tem uma forma de sprintar que não admiro. Acho-o desajeitado na bicicleta.
Notícia negativa do dia na corrida: A desistência de João Almeida. Era apenas uma questão de tempo. É um ser humano e depois de uma queda destas, por muito que quisesse ajudar a Pogacar nas montanhas, era impossível. Desejo-lhe uma recuperação rápida e um regresso em força para a Vuelta.
Mathieu van der Poel deu uma lição de companheirismo e mostrou o que significa ser um líder de equipa. Rickaert tinha um sonho... que agora é uma realidade. A Visma quis mais uma vez pressionar o pelotão e provou que é uma equipa talhada para os ventos cruzados.
Embora isso possa ter custado a Wout van Aert a hipótese de disputar o sprint no final do dia. Mas, como o belga disse ontem, se tivesse alguma intenção de disputar o sprint, escreveria primeiro algo no Twitter para avisar os seus rivais... Fui ao Twitter e ele não escreveu nada, por isso acho que não estava a pensar em ir ao sprint. Agora venham as montanhas, por favor, estou farto de etapas planas.
Félix Serna (CyclingUpToDate)
A ausência do Almeida altera completamente a dinâmica da prova, pois até agora temos visto uma equipa Visma muito concentrada e empenhada numa estratégia clara: animar a corrida todos os dias, independentemente do terreno. Agora, com a alta montanha a aproximar-se na segunda semana, os Emirates não se podem dar ao luxo de ficar sem o Almeida. A sua ausência é um grande golpe para a sua profundidade tática.
A Visma, por outro lado, deve agora gozar de uma vantagem tática. Com um dos mais fortes ciclistas de apoio como Jorgenson, eles têm as ferramentas para pressionar os Emirates. Dito isto, quando o seu rival é Tadej Pogacar, qualquer "vantagem" deve ser encarada com um grão de sal. A desistência de Almeida pode simplesmente aproximar a balança do poder, não mais nem menos.
Ao olhar para o perfil da etapa, estava confiante de que não voltaríamos a assistir a nenhuma fuga. Ainda bem que me enganei. A equipa Alpecin deu uma aula magistral de como manter os espectadores envolvidos durante várias horas.
Do ponto de vista tático, não sei bem qual era o objetivo por detrás desta jogada. Sim, Mathieu van der Poel disse numa entrevista que a equipa queria ajudar Jonas Rickaert a realizar o seu sonho: subir ao pódio da Volta a França. Mas talvez não seja necessário apertar Van der Poel para o conseguir. Rickaert ganhou o prémio de combatividade, mas tê-lo-ia ganho de qualquer forma se tivesse ido sozinho desde o início.
A chegada ao sprint foi caótica, mas permitiu-nos tirar várias conclusões. Após um início de época difícil, Arnaud deLie está de volta. Obteve dois Top 5 consecutivos nos sprints, sendo hoje terceiro.
Jonathan Milan foi segundo, mas ainda não derrotou Tim Merlier em sprints frente a frente neste Tour. O italiano parecia imbatível no início da época e, sinceramente, estava à espera de algo mais da sua parte.
Wout van Aert anunciou publicamente nas redes sociais que ia disputar o sprint de hoje, mas acabou por não o fazer. O belga parece estar a jogar um pouco o jogo do gato e do rato neste Tour. É difícil prever exatamente o que vai fazer em qualquer etapa.
Talvez essa imprevisibilidade faça parte da estratégia da Visma para manter os seus rivais na expetativa. No entanto, até agora, não parece estar a ter grande impacto em Pogacar.
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