“Decidiu chutar um bidão...” - Chris Horner critica temperamento explosivo de Remco Evenepoel, que considera ter-lhe custado o Campeonato do Mundo

Os Campeonatos do Mundo de 2025 foram dominados pelos astros Tadej Pogacar e Remco Evenepoel, mais uma vez garantindo as duas camisolas arco-íris para si mesmos, à semelhança de 2024. E enquanto o belga dominou o contrarrelógio individual, na corrida de estrada teve a sua própria quota de problemas. Especialmente os de caráter técnico.

As primeiras 10 voltas da corrida decorreram de forma relativamente calma, com uma eliminação gradual na retaguarda do grupo que não estava a afetar muito os favoritos (exceto as desistências de Ilan Van Wilder e Marc Soler após uma queda coletiva). A ação era esperada na principal atração do dia, o Monte Kigali. E Pogacar não desapontou, com duas acelerações sendo que a última foi letal. No entanto, Evenepoel já tinha desistido de seguir na frente logo após a primeira.

"Ele começou a mover-se para a direita e a olhar por cima do ombro," recorda Horner. Com os eventos desta temporada em mente, o americano teve imediatamente um flashback de Evenepoel a ver Pogacar a fugir na Fleche Wallonne, Liege-Bastogne-Liege ou Volta a França.

"E agora começo a sentir uma pressão no peito, como que a pensar, 'oh não, será esta a quarta vez durante a temporada de 2025 que Remco Evenepoel vai desistir neste momento?' Lembre-se, ele estava agarrado a este grupo, parecia estar bastante confortável, mas depois desviou-se para a direita, começou a ficar para trás."

O jovem de 25 anos estava na roda de Pogacar na sua primeira aceleração, mas depois desligou-se completamente da frente da corrida. A explicação veio rapidamente, quando a câmera encontrou o campeão olímpico com problemas na sua bicicleta.

"Remco Evenepoel não abrou para o lado apenas para dar passagem a cinco ciclistas, ele recuou para trás do pelotão todo. Ele estava a ter todo o tipo de problemas. Quando ele passa o alto, vê-se ele a saltar na bicicleta, como que a tentar resolver algo. As imagens baixam, e podemos dizer que ele não tinha um pneu furado... mas algo estava a acontecer."

"Ninguém trabalhava bem junto, começavam a atacar-se uns aos outros. Esta tática não funciona, tem que haver pessoas na frente. E vemos que neste grupo de 35 ciclistas, a Bélgica tem pelo menos três ciclistas, porque Cian Uijtdebroeks e Quinten Hermans estão lá, temos pelo menos quatro australianos, a França tem vários ciclistas, a Dinamarca tem alguma ajuda lá em cima... Apenas se pudesse manter-se a química unida."

"Remco Evenepoel começa a perceber que tem que trocar de bicicleta, então com mais ou menos seis voltas para o fim, ele para a cerca de 90 quilómetros para o fim. Ele literalmente que encosta para o lado."

Graças aos compatriotas Quinten Hermans e Louis Vervaeke, Evenepoel consegue voltar a entrar no grupo principal de forma relativamente rápida. No entanto, Pogacar já estava um minuto adiante na estrada ao lado de Isaac del Toro e também Juan Ayuso, ainda que temporariamente. Os perseguidores têm números para perseguir o esloveno, mas a cooperação é escassa.

E então eis que os líderes no grupo principal finalmente se unem. A Austrália, a Bélgica e a Itália colocam os seus homens a trabalhar na frente, um momento pelo qual Horner ansiava há anos: "Começo a ficar todo entusiasmado, estou como se tivesse estado a dizer-vos que isto tem que acontecer há quatro ou cinco temporadas. Têm que deixar Tadej ir à frente e colocar companheiros de equipa na frente."

No entanto, esta situação não durou muito tempo já que Jay Vine e Michael Matthews (Austrália) rapidamente desaparecem, a Itália para de trabalhar e a Bélgica fica sozinha no trabalho. Para somar a isso, Evenepoel tem que trocar de bicicleta, de novo.

"De repente Remco começa a levantar a mão, ele está a descair para a retaguarda do grupo. Ele está a ficar irritado, porque não consegue encontrar os carros," analisa Horner. "Então eis que Remco está a tentar encontrar o carro da sua equipa para poder trocar novamente de bicicleta, porque a bicicleta suplente não está a funcionar bem."

"Finalmente Remco para à direita da estrada, e salta da bicicleta. Ele está à espera, mas não vêm carros, nada. Então aparece o carro da Shimano. Ele fica chateado com o carro da Shimano e faz-lhe sinal para ir embora. Agora está de mãos no ar. Ele está a ficar frustrado. O carro da equipa continua desaparecido, e eis que ele decide chutar um bidão em sinal de frustração."

Evenepoel salta para aquela que já era a sua terceira bicicleta, uma que finalmente parece estar bem ajustada. Com outro grande esforço de Quinten Hermans, Evenepoel volta a entrar no grupo principal de onde mais ciclistas atacaram entretanto. Mas Evenepoel não tem nenhum problema em fechar os espaços sozinho.

"Vemos um Remco Evenepoel diferente agora que ele salta para a bicicleta dourada," Horner aponta.

Depois, forma-se um forte grupo de perseguição atrás do líder solitário Pogacar. No entanto, os companheiros de fuga de Evenepoel na estrada (Ben Healy e Mattias Skjelmose) já estão sem energia e a margem para Pogacar começa lentamente a crescer novamente, pois Evenepoel está a fazer a maior parte do trabalho entre o trio.

"Vemos lá o abanar de cabeça do Remco, pois ele percebe que não está a ganhar terreno a Pogacar," nota Horner, "então Remco acelera e deixa os outros dois para trás."

Ainda há uma leve esperança de que Pogacar irá talvez cometer um erro para compensar o azar de Evenepoel de mais cedo, mas tal não acontece. O campeão olímpico chega a uma medalha de prata, minuto e meio atrás do esloveno que volta a vencer com ataques desde a marca dos 100 km para o final.

Evenepoel terá uma oportunidade de se vingar nesta semana nos Campeonatos da Europa onde deverá encontrar novamente Pogacar na corrida de estrada. Já esta quarta-feira, Evenepoel terá a oportunidade de se tornar o rei indiscutível dos contrarrelógios ao ganhar o campeonato europeu, o que o colocaria no trono Olímpico, Mundial e Europeu ao mesmo tempo.