Haimar Etxeberria é o mais recente talento emergente a entrar pelas portas da
Red Bull - BORA - hansgrohe, selando uma transferência que o coloca de imediato ao lado de dois dos maiores nomes do pelotão:
Remco Evenepoel e
Primoz Roglic.
Com apenas 22 anos, o basco passou das croquetas no bar da aldeia depois das corridas para
integrar aquilo que descreve abertamente como “o Real Madrid do ciclismo”.A subida ao WorldTour representa mais um salto rápido num percurso que já contrariou expectativas.
Em conversa com a Marca, Etxeberria reconhece a dimensão do passo, mas garante que a sua base - família, amigos e simplicidade - não mudará.
“O meu nome tornou-se global. É como assinar pelo Real Madrid do ciclismo. É preciso saber lidar com isso. Sou simples, fico com a família, a minha companheira e os amigos. Não quero mudar e não vou”.
Uma “ligação especial” com a Red Bull desde a primeira conversa
Etxeberria explica que a transferência acelerou a partir do momento em que encadeou resultados fortes, despertando interesse de várias equipas WorldTour.
“Depois de vencer na Volta a Castilla y León e somar um mês de resultados muito sólidos, o meu agente e o Benat Intxausti começaram a ver possibilidades reais de saltar para o WorldTour. Havia equipas interessadas. Tudo parecia apontar para a Jayco, mas depois tive uma conversa com a Red Bull onde senti uma ligação especial desde o primeiro minuto. Perceberam os meus objetivos. Não tive dúvidas quando chegou a hora de assinar”.
O apelo ia além da estrutura. O plantel da Red Bull para 2026 inclui Evenepoel, o corredor que Etxeberria aponta como a sua maior referência, e Roglic, dois campeões cuja presença só reforçou a sua decisão.
“Sigo a Red Bull desde a era do Peter Sagan. Apaixonei-me pelo ciclismo quando ele revolucionou este desporto. E coincidiu que o Evenepoel, a minha grande referência, estava a chegar. Tudo encaixou”.
A Kern Pharma, a equipa que orientou os seus primeiros anos como profissional, apoiou a mudança com total compreensão. “A Kern Pharma não colocou obstáculos. O Juanjo é uma pessoa extraordinária e alguém em quem continuo a confiar. Esses laços não se quebram”.
Ambições moldadas pelos sonhos das Ardenas e fome de aprender
Os objetivos de longo prazo de Etxeberria apontam para as Ardenas, onde um dia espera discutir os maiores troféus de um dia. “Adoro as Ardenas. Sonho ganhar a Liège–Bastogne–Liège ou a Flèche Wallonne um dia. Também a Clásica San Sebastián, porque sou basco e praticamente começa à porta de casa”.
As inspirações estão definidas: Sagan pelo espetáculo, Valverde pela dominância e Alex Aranburu como referência realista.
Para já, insiste que o foco está menos nos resultados imediatos e mais em absorver tudo o que o WorldTour, e o vasto apoio da Red Bull, lhe pode ensinar. “Quando me adaptar ao WorldTour e à forma de trabalhar da Red Bull, veremos como posso evoluir. A minha prioridade é absorver o máximo possível. Sou privilegiado por ter esta oportunidade. Cada conselho vai direto para o caderno”.
Origens humildes, e nenhuma vontade de mudar
Apesar da ascensão meteórica, Etxeberria diz que continua a ser o mesmo ciclista da aldeia que aparecia nas voltas do grupo com uma bicicleta branca antiga e manetes no quadro.
“Comecei no trial. Depois os amigos levaram-me para as voltas da aldeia. Tinha uma bicicleta branca sem marca, com as mudanças no quadro. Media 1,70 e pesava 82 quilos. Era sprinter. A vida mudou muito”.
Há rotinas intocáveis: tempo em família, celebrações discretas e um grupo de treino em casa composto sobretudo por quarentões e cinquentões viciados em ciclismo. “Continuo a ser um miúdo da aldeia e quero continuar assim”.
A avó, que ficou conhecida por evitar ir às corridas por nervos, esteve presente no ponto de viragem, o dia em que venceu a Vuelta a Bidasoa. Agora, ao vê-lo assinar pela Red Bull, partilha da sua incredulidade. “Estamos a assimilar tudo juntos”.
Um Galáctico em espírito, mas ainda com fome, humildade e vontade de aprender
A chegada de Etxeberria à Red Bull - BORA - Hansgrohe traz frescura, potencial evidente e uma personalidade que encaixa na visão de longo prazo da equipa. Sabe que a oportunidade é enorme; sabe também que entra num dos ambientes mais escrutinados do ciclismo.
Ainda assim, prefere pensar de forma simples. “Ser ciclista profissional é desfrutar e trabalhar duro, sem perder a essência”.
A Red Bull pode ter o seu próximo Galático, mas ele mantém os pés bem assentes na terra.