A Wolfpack não será a mesma sem o seu líder de matilha,
Patrick Lefevere, mas isso não significa que a Soudal – Quick-Step deixará de ser uma equipa a acompanhar nos próximos anos. A abordagem do novo manager, Jurgen Foré, é quase oposta à do seu antecessor, e só o tempo dirá se uma liderança mais calculista será a resposta numa era em que correr apenas pelo instinto já não basta.
De seguida, destaca aquilo que, para ele, foi determinante no legado do belga: “Era um vencedor. (Mil corridas em 30 anos). Ganhou-as ele próprio, segundo os seus instintos.”
É assim que Wuyts vê o seu compatriota. Lefevere era “afinal, uma estrela ao lado dos seus campeões” e, por isso, podia permitir-se determinadas atitudes. “Censurar Sam Bennett e Julian Alaphilippe na imprensa, brincadeira. Gaguejar com alguma leviandade numa mesa ao dar uma entrevista, vá lá, perdoava-se muito a um fanfarrão 'flamboyant'.”
Um trono pesado
Ao revisitar a longa lista de conquistas alcançadas sob a sua liderança, torna-se evidente que qualquer sucessor herdaria uma tarefa carregada de expectativas difíceis de gerir.
“Popular entre os seus eleitores e a bitola de todos os padrões. Uma pergunta pertinente: há vida no ciclismo depois de Lefevere?” questiona Wuyts.
Foi nesse contexto que Jurgen Foré assumiu o cargo. Ou melhor, tenta ocupar o espaço deixado por alguém que, segundo o analista, não pode verdadeiramente ser substituído. “Rasguem essa palavra. É impossível seguir o Bill Clinton do pelotão. Imitá-lo seria uma tolice. É um gestor diferente, estilo de liderança diferente. Foré tem melhor formação do que o seu antecessor e como quadro superior na consultora e auditora Deloitte, possui uma base económica mais ampla.”
Wuyts destaca diferenças profundas entre os dois. “Onde Lefevere adorava a câmara, Foré responde com contenção quando questionado. ‘Acabaram-se as tiradas mordazes e suculentas, começa agora a era da sisudez’, disse um especialista aquando da nomeação de Foré. Ainda assim, sublinha que a estreia do novo líder foi bem-sucedida.
Patrick Lefevere, uma figura controversa
A Wolfpack continua a vencer
A Soudal – Quick-Step manteve resultados expressivos. “Após a primeira temporada de Foré, conto 56 vitórias (54 profissionais). É uma série fantástica para o primeiro ano. E de forma notável, ele não reclama nenhuma dessas vitórias para si. Foré centra-se, com inteligência, nos méritos de toda a equipa”, analisa Wuyts.
O capítulo das transferências também mereceu elogios. “Também se pode atribuir um prémio por uma política de transferências sólida? Stuyven e Van Baarle demonstram ambição contínua, Rex e Dainese reforçam o contingente de sprints em torno de Merlier e do novo conquistador, Paul Magnier.
Foré fez ainda compras inteligentes com Van den Bossche, Cras e Zana.”
A saída de Remco Evenepoel obrigou a reposicionar a estratégia. “Sem ele, o foco volta à esmorecida campanha da primavera, Van Wilder e Landa não ficarão para trás nas etapas decisivas”, conclui Wuyts.