"Esta história já vem de há meses..." Javier Ares dá novas informações sobre a saída de Ayuso da Emirates e sobre o acordo com a Lidl-Trek

Ciclismo
terça-feira, 02 setembro 2025 a 22:56
Juan Ayuso Joao Almeida
Juan Ayuso vai mesmo deixar a UAE Team Emirates - XRG para reforçar a Lidl-Trek. A confirmação foi dada por Javier Ares, narrador veterano de ciclismo no Eurosport, que no seu canal do YouTube explicou que o acordo não é uma consequência das polémicas recentes na Volta a Espanha 2025, mas sim o resultado de um processo de vários meses de negociações.
"Esta história já vem de há meses. Embora os Emirates tenham um enorme poder financeiro, a acumulação de talentos no futuro com Isaac del Toro, Jan Christen e outros tornou a situação ainda mais complicada. A Lidl-Trek fez uma proposta muito elevada e a UAE, perante o montante, acabou por aceitar. O acordo está concluído: a Lidl-Trek adquiriu os serviços de Ayuso após um pagamento significativo, num contexto em que Evenepoel ronda os cinco milhões de euros", explicou Ares.

Negócio fechado antes da Vuelta

O jornalista deixou claro que a turbulência vivida na atual edição da Vuelta em nada influenciou o desfecho. "Não se trata de revelar acordos privados, mas sim de sublinhar que Ayuso vai correr as próximas quatro ou cinco épocas com a Lidl-Trek. O pacto é absoluto entre as três partes. Oficialmente, nada será anunciado até ao final da época, mas neste dia de descanso a operação está definitivamente fechada".
Segundo Ares, a perceção de que Ayuso estaria a "forçar" a rutura ao adotar uma postura individualista durante a corrida espanhola não corresponde à realidade. "Isto tem alguma coisa a ver com o que aconteceu na Volta a Espanha? Não. Esclareço-o para tirar dúvidas: o acordo vem de trás, de meses de negociações, e não é uma consequência dos recentes gestos de Ayuso. Houve quem pensasse que ele estava a mostrar um carácter egoísta para provocar a saída, mas a verdade é que tudo estava encaminhado muito antes".

Benefícios para todas as partes

Na opinião do jornalista, a transferência faz sentido para todos os envolvidos. "Para Ayuso, é uma grande notícia: assina por uma equipa muito forte, com ciclistas de topo como Pedersen, Milan, grandes homens de clássicas e jovens ciclistas de futuro como Héctor Álvarez. A Lidl-Trek reforça assim o seu bloco com um líder para as corridas por etapas, com capacidade para competir com a UAE, Red Bull ou Visma".
Do lado da UAE Team Emirates - XRG, Ares considera que a saída pode até ajudar a aliviar tensões. "Para a Emirates, por outro lado, alivia uma tensão inevitável. Haverá quem culpe a equipa e Matxín pela falta de decisão, quem culpe Ayuso, enquanto outros pensam que Almeida devia ter medido melhor as suas palavras ao apontar o dedo aos seus colegas de equipa. Almeida tinha razão nas suas afirmações? Não. O gesto de Ayuso de se deixar ir durante as primeiras inclinações foi um gesto bonito? Perdeu uma oportunidade de se reabilitar, mesmo que não tenha contado que nas duas primeiras horas da etapa estava a atacar, a saltar todos os ataques e a procurar a fuga".

Tensões internas na UAE

Ares salientou que os problemas de Almeida dentro da equipa vão além de Ayuso, mencionando também outros talentos em conflito com a hierarquia. "Também é conveniente fazer algumas nuances sobre as relações internas. Entre Almeida e Ayuso não foram más, embora haja pormenores que pesam. Por exemplo, Christen não está nesta Vuelta porque o seu comportamento na Volta à Suíça, a corrida que ganhou com Almeida, não foi o mais adequado para a equipa. Esperava que estivesse entre os oito iniciais da UAE para a Vuelta, mas foi dispensado. Estas histórias repetem-se, umas vezes toleradas e outras não. Houve falta de autoridade? Mais do que autoridade, eu diria que houve falta de decisão".
A ausência de Tadej Pogacar, explica o narrador, também contribui para a instabilidade. "Quando Pogacar está presente, não há problema: todos têm ideias claras, ele é o super favorito e a aposta é inequívoca. Mas quando Pogacar não está, surgem quatro ou cinco ciclistas que reclamam o seu papel. Diz-se que é preciso trabalhar para um líder, e é verdade que isso é o ideal e que a união faz a força. Mas depois é preciso perguntar ao diretor-geral em que condições trouxe Adam Yates, em que condições contratou Ayuso ou Almeida, que bónus ofereceu... É tudo mais complexo do que parece".

Relação tensa entre Almeida e Ayuso

As divergências entre Almeida e Ayuso também não são recentes. "E não podemos pedir a Ayuso que tenha a melhor relação com Almeida quando, no Tour do ano passado, apontou desnecessariamente para ele com aquele famoso gesto de mão, dizendo-lhe para passar à frente. Isso não ajuda a criar um bom ambiente. As queixas públicas também não ajudam, mesmo que Almeida tenha razão quando diz que sente falta dos seus colegas de equipa na liderança. Outros ciclistas, como Vine e Soler, também ficaram irritados".
Além disso, o papel de Isaac del Toro na Volta a Itália também trouxe debates internos. "Podemos censurar, por exemplo, o facto de Del Toro não ter ficado com Ayuso na etapa de Siena. Se fosse Pogacar, teria certamente a obrigação de o fazer. Ayuso não é Pogacar, é evidente, e a equipa fez bem em dar liberdade a Del Toro. Temos de nos referir aos factos e julgar cada um pelo seu comportamento real, sem visões tendenciosas".

Perspetivas para o resto da Vuelta

Apesar da saída confirmada de Ayuso e das tensões evidentes, Ares insiste que a equipa ainda tem muito a dizer nesta Vuelta. "Em resumo, o ambiente dentro da equipa na Vuelta, pelo menos até ao dia de descanso, tem sido bom. Outra coisa será o que vai acontecer depois da décima etapa. Almeida transmitiu uma mensagem de otimismo que espero que o grupo aceite. Ninguém contesta que a Visma é muito forte, que fez uma grande prestação ontem e que Vingegaard é o grande favorito para repetir a vitória. Mas Almeida continua a querer lutar. Resta saber se, em algum momento, o desgaste da Volta a França vai afetar Vingegaard. Para já, Almeida parece forte e em boas condições".

Um novo ciclo para Ayuso

Ares conclui destacando que a mudança de Ayuso representa um novo começo na carreira do jovem catalão de 22 anos, que terá na Lidl-Trek a oportunidade de liderar com mais autonomia e menos pressões internas. "Para Ayuso, esta transferência é um passo em frente. Vai para uma equipa que lhe dá espaço, ambição e capacidade de lutar por vitórias em Grandes Voltas. Para a Lidl-Trek, é a contratação de um líder sólido, capaz de ombrear com Pogacar, Evenepoel ou Vingegaard. E para a UAE, é o fim de uma convivência que já não fazia sentido. No fim, todos saem a ganhar".
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