Remco Evenepoel voltou a exibir o seu habitual poderio físico no recente Campeonato Nacional de Estrada da Bélgica, disputado em Binche, mas, apesar da exibição dominante, não conseguiu levar a vitória. A vitória sorriu a
Tim Wellens, que, no final, não poupou elogios ao compatriota da Soudal - Quick-Step, reconhecendo o papel central que Evenepoel desempenhou no desfecho da prova. Como muitos dos que alinharam contra o campeão do mundo de contrarrelógio, também
Sven Vanthourenhout, antigo selecionador nacional, sublinhou a superioridade evidente de Remco, e a forma como os adversários souberam anular o seu ímpeto.
No podcast Vals Plat, Vanthourenhout foi claro: a tática coletiva do pelotão foi o fator decisivo para travar Evenepoel. “Jasper Philipsen, que acabou em terceiro, passou quase toda a corrida colado à roda do Remco. Isso não é surpreendente. Se eu fosse diretor desportivo, teria dito o mesmo. Philipsen só precisava de vigiar uma pessoa, e era ele.”
A análise de Vanthourenhout vai mais longe e expõe um traço recorrente no comportamento competitivo de Evenepoel: a dificuldade em perceber que a sua capacidade física está num patamar muito acima do habitual. “Ele esquece-se, por vezes, de que os outros não conseguem manter aquele ritmo diabólico. Foi o que se viu no último Mundial em Zurique. Ele puxou na frente durante cinco ou seis quilómetros, terminou a apenas 35 segundos de Pogacar e levou cinco ou seis ciclistas na roda. Depois, pede-lhes que assumam o trabalho. Mas não dá, eles vão no limite só para o seguir.”
Tim Wellens venceu os Campeonatos Nacionais belgas de estrada
O antigo selecionador trouxe também à tona uma história ilustrativa dos Jogos Olímpicos do verão passado, onde Evenepoel voltou a deixar a concorrência perplexa. “Após a prova de estrada, já na aldeia olímpica, cruzei-me com Stefan Küng. Ele tinha estado na fuga e foi ultrapassado pelo Remco. Contou-me que ficou sem perceber como aquilo aconteceu.”
Segundo Vanthourenhout, Küng relatou: ‘Estou apenas na roda dele. Ele nem ataca, mas há uma sensação de que temos de colaborar. Só que, de repente, é um metro, dois metros, cinco metros, dez metros…’ O suíço ficou para trás numa estrada completamente plana, um episódio que, para Vanthourenhout, é semelhante ao que sucedeu a Wout van Aert na última Brabantse Pijl. “O Wout (van Aert) ficou sem capacidade para sprintar. Ficou completamente vazio.”
Mesmo sem o título nacional, a demonstração de força de Evenepoel volta a gerar espanto e respeito dentro do pelotão. O seu estilo agressivo, por vezes mal compreendido, continua a deixar marcas nos adversários, não só pelas vitórias que coleciona, mas também pelas derrotas onde, paradoxalmente, acaba por ser a figura dominante.