Jai Hindley está de volta à Volta à Itália, onde escreveu uma das páginas mais memoráveis da sua carreira ao vencer a geral em 2022. Três anos depois, o australiano de 28 anos regressa à Corsa Rosa com um papel diferente, ao serviço de
Primoz Roglic na
Red Bull - BORA - hansgrohe, mas com sinais encorajadores de que pode voltar a brilhar ao mais alto nível.
Na recente Volta aos Alpes, Hindley concluiu em oitavo da geral, num desempenho sólido após um estágio em altitude. Apesar de não ter acompanhado a explosividade de Michael Storer, o australiano destacou os benefícios de competir após um bloco de treino exigente. “As minhas experiências anteriores dizem-me que, depois de um campo de altitude, demoro sempre algum tempo a encontrar ritmo de corrida”, explicou ao
In de Leiderstrui. “Sinto-me bem, mas espero estar ainda melhor no Giro. Agora será tempo de recuperar com alguns dias mais leves. A Volta aos Alpes foi uma corrida dura e é bom ter esse esforço nas pernas.”
Também no início da época, Hindley teve uma boa prestação no Tirreno-Adriatico. “O Tirreno correu bem. Tentei tirar o máximo partido, senti-me forte e depois voltei a subir a altitude. Agora sinto-me ainda melhor e mais forte.”
O diretor desportivo Bernard Eisel, uma das vozes de referência da equipa alemã, tem sido cautelosamente otimista em relação à condição de Hindley: “O Jai parece promissor. Não caiu, não esteve doente, e isso é cada vez mais importante no ciclismo.”
A trajetória atual de Hindley é curiosamente semelhante à da sua campanha vitoriosa em 2022, onde foi 5.º no Tirreno e 13.º na Volta à Catalunha antes de atingir o pico de forma em Itália. “Preparamos tudo o melhor possível, mas se houver doenças ou quedas, perde-se uma semana de treino. A terceira semana de uma Grande Volta continua a ser decisiva, mas é essencial começar com boas pernas e boa moral”, reforçou Eisel.
Desta vez, o papel de Hindley está claramente integrado num plano coletivo mais ambicioso, com Roglic a liderar a equipa na luta pela Camisola Rosa. “Quero ser o melhor Hindley possível no Giro, mas também olhar já para as corridas do final do ano. Acho que estou próximo do nível de 2023, mas o nível do pelotão está sempre a subir. Não importa se estás no Tour Down Under ou na Volta a França, o nível é sempre altíssimo. Temos de estar no nosso melhor para vencer”, afirmou o australiano.
Eisel foi direto quanto à exigência de lutar pela classificação geral: “Se queremos estar na luta pela geral, é preciso estar presente todos os dias. Isso é exigente a todos os níveis.”
Frederik Wandahl, colega de equipa que treinou com Hindley e Roglic no Teide, também deixou elogios. “Passei duas semanas em altitude com o Jai. Somos amigos e conheço-o bem. Ele está num bom momento, especialmente depois de um ano difícil. Pode estar melhor do que em 2023.”
“Ele está cheio de confiança. E quando o Primoz está confiante, sabes que ele vai render. Claro que, ao vê-los treinar, ficas impressionado, mas no fim são pessoas normais. Ambos sabem o que precisam de fazer e trabalham de forma muito metódica.”
Hindley deverá ser um dos principais escudeiros de Roglic, mas Eisel não descarta outras possibilidades. “É importante ter várias cartas numa Grande Volta. Já estive em equipas em que passámos do plano A para o B. É sempre bom ter um plano C também. Hoje em dia, cada dia numa Grande Volta pode redefinir a tática.”
Com um percurso recheado de incertezas – como a etapa de estradas brancas na Toscânia, os contrarrelógios e a estreia na Albânia – a adaptabilidade será fundamental. “As tácticas podem mudar todos os dias. As equipas têm de estar preparadas para reagir constantemente”, explica Eisel.
O próprio Hindley reconhece que o ciclismo moderno exige uma nova abordagem. “Hoje é essencial ser explosivo, por causa dos segundos de bónus. Tento melhorar isso, mas sou um ciclista de Grandes Voltas, é aí que me sinto mais confortável. Só tenho de continuar a adaptar-me.”
Hindley não esconde que poderá ter mais liberdade na Volta a Espanha, que já apontou como um dos grandes objetivos da segunda metade da temporada. Até lá, vai trabalhar para Roglic, mas com ambição suficiente para aproveitar qualquer abertura.