A 86.ª edição da
Volta a Portugal (2025), sob a responsabilidade da Podium Events, foi alvo de diversas críticas e problemas que marcaram a sua organização, com várias falhas a serem apontadas por ciclistas, diretores e jornalistas. Além disso, surgiram algumas observações de bastidores que ajudam a compreender os desafios enfrentados pela prova ao longo do evento.
Principais problemas identificados
- Desinteresse do público e “produto” em queda: Foi apontado que a Volta perdeu parte da sua capacidade de mobilizar o público ao longo do percurso. “A ausência de referências nacionais, o desinvestimento organizativo ou a menor qualidade do pelotão retiraram encanto à Volta a Portugal.”
- Além disso, refere‑se que a prova “foi apresentada menos de três semanas antes de ir para a estrada”. Também se aponta que “a organização tem muita gente - demasiada talvez – mas ninguém parece preocupado com a evidente desvalorização do ‘produto’ Volta”. Ou seja: para vários intervenientes (ciclistas, directores desportivos, imprensa) faltou planeamento, comunicação e estratégia para manter o nível habitual de espetáculo.
- Neutralização e alteração de percurso por incêndios
A 4.ª etapa da Volta foi neutralizada/encurtada devido a um incêndio na zona da Serra do Alvão: “A 4.ª etapa da 86.ª Volta a Portugal foi hoje neutralizada e ‘encurtada’ devido ao incêndio que lavra na Serra do Alvão.” O director da prova, Joaquim Gomes, descreveu o incidente como “uma situação excepcional” mas admitiu que o percurso alternativo foi imposto pelas circunstâncias. Embora seja razoável perante força maior, esta decisão gerou críticas quanto à consistência da prova e à forma como foi comunicada.
- Críticas à organização no seu todo: Num artigo onde Joaquim Gomes defende que a Volta “está bem viva”, é admitido que “a organização da prova … esteve debaixo de muitas críticas, provenientes dos mais diversos quadrantes, relativamente a muitos aspectos”. Também se faz notar que directores desportivos apontam para que “há um trabalho não tão bem feito de quem organiza”. Um dos aspectos citados foi: “Os líderes das equipas portuguesas são praticamente todos estrangeiros. Isso acaba por fazer com que o interesse das pessoas morra muito.”
- Foram feitas referencias ás falhas de comunicação à caravana, ao atraso no pagamento de prémios, ás restrições de acesso à imprensa, entre outros. Em resumo: parece existir uma percepção de que a organização foi menos cuidada, com impacto direto tanto no envolvimento do público.
Joaquim Gomes esteve debaixo de fogo na Volta a Portugal 2025
Observações relevantes
- O facto de o contrato de concessão da prova com a Podium Events estar perto do fim foi referido como contexto para a “letargia latente” no evento.
- A combinação de menos “referências nacionais” (ciclistas portugueses que sejam protagonistas) e menos público ao longo de subidas históricas foi destacada como sinal de alerta.
- Apesar das críticas, a organização defendeu que os problemas foram “mais do que identificados” e que, apesar de tudo, a corrida “correu bem”.
O Futuro
Nas conversas que existem nos bastidores relativamente à próxima edição da Volta a Portugal, ganha força a hipótese de João Cabreira assumir a liderança da prova. João Cabreira, ex-ciclista profissional tem uma empresa de organização de eventos “Cabreira Solutions”, especializada em granfondos amadores. Esta eventual mudança surge num momento de transição da prova, em que se procura revitalizar o “produto” Volta a Portugal.
Paralelamente, Joaquim Gomes, antigo vencedor da Volta a Portugal, é apontado como potencial candidato a integrar um cargo na Federação Portuguesa de Ciclismo, podendo assumir o cargo de director de organização das provas da Federação Portuguesa de ciclismo. Esta dupla movimentação, por um lado com Cabreira na linha da frente da organização e por outro com Gomes a avançar para o âmbito federativo, poderá mudar significativamente o panorama do ciclismo nacional nos próximos anos.
Fotos: Nuno Veiga/Lusa