Sempre que Lance Armstrong fala, o mundo do ciclismo escuta - nem sempre com agrado. E numa recente entrevista ao podcast de Steve-O, ex-protagonista de Jackass, o antigo vencedor da Volta a França voltou a ser notícia, com declarações polémicas sobre o passado, o doping e o seu legado.
A conversa começou com uma retrospetiva sobre o processo movido pela US Postal, antiga patrocinadora da equipa de Armstrong, após a retirada dos seus sete títulos na Volta a França, consequência do escândalo de doping:
“Queriam 100 milhões de dólares. Que eu não tinha. Falava-se de 107 ou 111 milhões, com tudo incluído - advogados, garantias assinadas, uma série de formalidades. Diziam-me que havia cinco por cento de hipótese de eu ter de pagar. Eu achava que era zero. No fim, chegámos a acordo por cerca de cinco milhões".
Apesar do embate jurídico e do colapso reputacional, Armstrong salvaguardou o seu futuro financeiro com um investimento certeiro - na Uber.
“Vivi algum tempo com incerteza, mas investi cedo na Uber, quando ainda era uma startup. Esse investimento salvou o estilo de vida da minha família. Já não sou acionista, mas a empresa vale agora 70 mil milhões. Entrámos quando valia 3,5 milhões. Façam as contas".
Como seria de esperar, o tema do doping surgiu. Armstrong, que nunca escondeu o seu ceticismo face às autoridades antidopagem, voltou a deixar críticas à forma como o sistema funciona.
“Não sou fã dessas agências. Gastam muito dinheiro e, na minha opinião, não são assim tão eficazes. Mas também não acho que se deva permitir aos atletas fazerem o que lhes apetecer — isso seria extremamente perigoso"
E acrescentou:
“O COI regula tudo. Todos os desportos estão ligados ao movimento olímpico, e isso é uma coisa boa. A estrutura é necessária, mas precisa de funcionar melhor".
Quanto ao legado deixado no ciclismo, Armstrong mantém-se desafiante. Apesar de oficialmente as suas vitórias na Volta a França entre 1999 e 2005 continuarem anuladas - com a classificação a registar “sem vencedor” -, acredita que a história acabará por rever a sua posição.
“Dizem que não ganhei nada. Que não há vencedor, que esse capítulo está em branco. Mas a história nunca é definitiva, está sempre a ser reescrita. E um dia a verdade virá ao de cima".
Para Armstrong, o que mais valoriza são as pessoas que partilharam o caminho com ele:
“Estive com quem lutou comigo, com quem enfrentei. Com os que venci, os que quis vencer e até com os que nunca consegui abraçar. Se falarem com eles, saberão quem foi o verdadeiro campeão. Talvez, quando a história se ajustar, eu já cá não esteja - e tudo bem. A história nunca está terminada".