Lenda francesa elege o ciclista que poderá ser a esperança da França nas grandes voltas "Penso que ele é aquele que talvez tenha as maiores capacidades"

sexta-feira, 28 fevereiro 2025 a 13:10

Cyrille Guimard, o francês de 78 anos que venceu sete etapas na Volta a França e ganhou duas medalhas de bronze no Campeonato do Mundo, falou recentemente ao Cyclism'Actu sobre o início da época de 2025. Com o seu conhecimento e experiência, ele também deu uma visão detalhada do estado atual e das perspectivas do ciclismo francês.

Um dos primeiros temas discutidos foi o início de época de Tadej Pogacar e Jonas Vingegaard. Pogacar conquistou recentemente a vitória no UAE Tour, enquanto Vingegaard garantiu a vitória na geral na Volta ao Algarve.

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"O mais impressionante, se falarmos dos dois, não há comparação, é o Pogacar e os outros, incluindo o Vingegaard que, claro, ganhou mas também tem um estatuto que lhe permite ganhar neste tipo de prova que não era a mais difícil ao seu nível. Pogacar foi imperial".

"É verdade que na última etapa, na última subida, ele levou a sua bicicleta a passear, mas penso que talvez tenhamos de nos habituar a isso. Vingegaard parece-me menos impactante do que no ano passado. Ele também pode ter ficar mais confiante quando competir contra Pogacar".

"Nada é preocupante. Não temos o poder de mudar isso ou seria nojento. A corrida ainda está viva. Há sempre um momento em que as coisas acontecem. Lembram-se do ano passado, quando estávamos a falar da Volta a França e eu disse que não sabíamos quem iria estar no início do Tour".

"E depois houve uma queda grave em que Evenepoel e Vingegaard ficaram gravemente feridos. Não foram os únicos que alteraram todo o início da época e quase que poderíamos mesmo dizer o percurso normal do Tour".

"Continuo a pensar que o Vingegaard é um pouco menos impactante, mas veremos como as coisas evoluem. Ele está ao nível que esperaria nesta fase da época. Nem todos os ciclistas estão ao mesmo nível, ao mesmo nível de preparação física, em função dos objetivos de cada um, mas o Vingegaard, ao ganhar o contrarrelógio, sim, fez pequenas diferenças, mas para mim é indiferente se foi sobre o Pogacar ou sobre outros grandes ciclistas como o Ganna. Sim, poderíamos ter dito que não há qualquer lição a tirar desse facto. Ele também não ganhou ao Tarling ou ao Evenepoel".

Guimard também partilhou a sua opinião sobre o ciclista francês David Gaudu e as suas perspectivas para a época.

"Gaudu está habituado a fazer boas estreias e lembrem-se que ele já terminou em 2º lugar num Paris-Nice. Ele precisa de demonstrar as coisas porque, em comparação com as expectativas que são colocadas em David, ele não tem estado à altura das suas expectativas há 2 ou 3 anos".

"Começou bem a época, mas teve uma queda recente, aparentemente nada de grave, uma vez que parou apenas uma semana. Cabe-lhe a ele responder às diferentes expectativas e está a chegar a uma idade em que já não tem o direito de falhar. Considero que o seu início de época é lógico, clássico e nada de especial. É bom levantar os braços, é bom para a cabeça, para a equipa, para os colegas. É sempre bom ganhar".

Guimard foi questionado sobre se a próxima estrela francesa seria Lenny Martinez ou Paul Seixas: "Pelo que vi do Seixas desde o escalão de cadetes, para mim, o Seixas está um patamar acima. Pode entrar na casta dos grandes, sem esquecer que terá 19 anos no final do ano".

Será Lenny Martinez a melhor esperança francesa?

"É preciso ver, sobretudo entre os mais jovens, se nasceram a 31 de dezembro ou a 1 de janeiro. É um ano de diferença".

Guimard também destacou outros jovens talentos franceses.

"Temos Paul Magnier nos sprints e possivelmente nas clássicas, que também está na casa dos vinte anos. E depois Paret-Peintre. Temos Valentin, que tem quase 24 anos, mas que está a fazer coisas interessantes e que é um verdadeiro trepador. Um guerreiro também".

"E depois está numa equipa onde estão habituados a ganhar e onde querem ganhar. A cultura da vitória é importante. Além disso, ele já começou a afirmar-se. Para as classificações gerais, nas grandes voltas, penso que ele é aquele que talvez tenha as maiores capacidades".

Duas equipas francesas, a Arkea e a Cofidis, enfrentam desafios importantes na luta pela permanência no WorldTour, nomeadamente devido ao forte início de época da XDS Astana.

"Esse é outro problema. Fazemos mais política nas federações do que lidamos com os verdadeiros problemas desportivos e humanos. Mas está em vigor, funciona assim. Para mim, só há uma equipa que pode sair desta situação, que é a Cofidis. A Arkea, infelizmente, não me parece, porque atrás dela temos a Uno-X, a Astana".

"É preciso saber que a Arkea ainda está a 2700 pontos da Cofidis. Ainda é muito para recuperar num ano. Podemos ver que a Astana, a Uno-X, tem 3100 pontos sobre a Cofidis. A Astana já conquistou mais de 2000 pontos desde o início do ano, por isso a ultrapassagem pode ser muito rápida e a Cofidis terá que arrepiar caminho. Têm a sorte de ter um ciclista muito rápido que pode ir buscar pontos: Milan Frétin. Mas outros serão necessários".

Guimard reconheceu a forma ameaçadora da Astana no início da época: "Aparentemente, conseguiram encontrar meios financeiros. Têm uma estrutura de equipa que ainda está bem feita e ciclistas que estão a começar a dar resultados. Por isso, temos de ter cuidado, porque provavelmente estão muito motivados, com uma carga de trabalho enorme, para tentar conquistar o máximo de pontos possível nas primeiras provas e simplesmente manter a esperança. Será que vão durar toda a temporada assim? Isso é mais difícil e mais complicado de saber".

"Uma coisa é certa, apercebemo-nos de que o Uno-X está numa progressão tão significativa. A Tudor também não está muito mal, mas estão muito longe, estão a 10.000 pontos. Portanto, não vão recuperar 10.000 pontos este ano à Cofidis. Deve ser muito stressante quando se está nesta situação. O problema é saber se a Astana vai manter a sua dinâmica ou não e quem será capaz de pressionar a Cofidis".