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UAE Team Emirates - XRG esteve mais vezes sob os holofotes do que qualquer outra formação ao longo de 2025, acumulando 97 vitórias profissionais, um registo que pulverizou todos os recordes conhecidos. Porém, longe da ribalta e do foco mediático, a equipa aposta também no desenvolvimento da nova geração de talentos através da estrutura interna “Gen Z”. Depois de no ano passado promover o supertalento da montanha Pablo Torres à equipa principal, em 2026 será a vez do seu compatriota Adria Pericas seguir o mesmo caminho.
Observando os resultados de alguns dos corredores da formação Gen Z de 2025, percebe-se que nomes como Mateo Ramírez, Luca Giaimi ou Davide Stella podem vir a desempenhar um papel de alto nível nos próximos anos. Mas o investimento não se limita à descoberta de diamantes por lapidar. Na filosofia da UAE, cada jovem corredor é trabalhado em várias camadas, com etapas de crescimento bem definidas e orientadas passo a passo.
“De um modo geral, embora seja treinador e portanto habituado a trabalhar muito com números, siglas e dados, quando faço briefings falo bastante”,
explicou Giacomo Notari, treinador principal da UAE Gen Z, à bici.pro, a propósito do estágio de pré-época que junta o novo grupo de corredores aos que transitam da temporada anterior.
A sua abordagem varia consoante a maturidade e o tempo de integração de cada ciclista. Com os elementos mais experientes, o objetivo passa por elevar ainda mais o rendimento. “Tento perceber o que esperam de si próprios, o que consideram que fizeram bem e onde sentem que precisam de melhorar. Não o que fizeram mal, mas onde acreditam que podem evoluir.”
Já no caso dos recém-chegados, o processo começa pela autoperceção. “Com os novos, tento perceber que tipo de corredor acham que são, para ficar com uma ideia. Depois, com os dados, já se pode entender algo, mas também é importante conhecer a autoimagem deles, porque ainda estão numa fase em que as coisas podem mudar.”
Pablo Torres em acção no Tour de l'Avenir
Ganhar corridas é mais do que números
Notari sublinha que o ciclismo moderno continua a ser muito mais do que uma disputa entre valores de potência. Embora por vezes essa variável possa ser determinante, nem sempre quem apresenta os melhores números cruza a meta em primeiro. O instinto competitivo, a leitura tática da corrida e a capacidade de se posicionar no momento chave são muitas vezes decisivos."
“Modelo isto mais como um diálogo, até psicológico: focamo-nos nos números, mas numa corrida, quem debita mais watts nem sempre vence. Sendo um desporto situacional, saber resguardar-se na roda, ganhar posição, ler a corrida e perceber qual é o momento certo é fundamental.”
Claro que também se analisa a evolução fisiológica, sobretudo quando se trabalham atletas do calibre de Tadej Pogacar. Contudo, Notari contraria a visão simplista que associa ganhos marginais de FTP a melhoria direta de rendimento. “Depois, claro, também olhamos um pouco para os números. Claro, mas melhorar o FTP deles não significa necessariamente que tenham andado melhor do que no ano anterior.”
O treinador reforça a importância da resistência e da capacidade de executar movimentos decisivos sob desgaste. “As melhores performances tendem a surgir quando estão frescos, enquanto em corrida as movimentações vencedoras nascem da fadiga”, realça. “Por isso, às vezes fazemos testes em fadiga. O meu objetivo é melhorar a resistência, para que cheguem menos cansados ao final.”