O novo herdeiro da cruz helvética: Mauro Schmid e o futuro do ciclismo suíço

Ciclismo
quarta-feira, 29 outubro 2025 a 8:00
mauroschmid
Ainda não há um novo Fabian Cancellara, mas o ciclismo suíço parece finalmente reencontrar o rumo. Depois de anos à procura de sucessores à altura do “Spartacus”, a Suíça volta a exibir talento e profundidade, com Mauro Schmid a assumir um papel central nessa reconstrução.
O ciclista da Jayco AlUla, que completará 26 anos nas próximas semanas, conquistou este ano o seu segundo título nacional consecutivo, somando o campeonato de estrada e o de contrarrelógio, um feito que o coloca numa linhagem ilustre, dominada por nomes como Stefan Küng, Stefan Bissegger e o próprio Cancellara.
“Ganhar a camisola uma vez já é especial, mas repeti-la no ano seguinte é algo fantástico”, disse Schmid ao Bici.pro. “O contrarrelógio foi uma surpresa até para mim, mas estava muito bem preparado e cheguei nas melhores condições. Ser campeão nacional de contrarrelógio tem prestígio na Suíça, basta pensar no que Küng e Cancellara fizeram nos últimos 25 anos. O nível é sempre muito alto.”

O herdeiro natural da cruz helvética

A vitória de Schmid no contrarrelógio nacional de 2024, por apenas um segundo sobre Bissegger, surpreendeu muitos observadores, sobretudo porque Kung, seis vezes campeão, não alinhou devido a lesão. Ainda assim, o feito confirmou a evolução constante de Schmid, que vive o melhor momento da carreira.
“É bom ser facilmente reconhecido nas corridas”, confessou. “Usar a cruz helvética é um orgulho enorme e uma motivação adicional. Quero honrar esta camisola o máximo de tempo possível.”
Schmid tornou-se, nos últimos anos, num ciclista versátil, capaz de brilhar tanto nas fugas de longa distância como em finais seletivos. Foi precisamente uma dessas escapadas que o levou à vitória na Volta a Itália de 2021, quando ainda representava a Qhubeka-Assos. Desde então, tem-se mantido como um nome regular nas grandes voltas, e com uma ambição clara: voltar a vencer.
Jan Christen (à esquerda) tem vindo a progredir desde a sua estreia como profissional em 2023
Jan Christen (à esquerda) tem vindo a progredir desde a sua estreia como profissional em 2023

“O ciclismo suíço precisa de tempo, mas já há algo em movimento”

Para Schmid, o renascimento da Suíça na estrada é apenas uma questão de tempo. Embora o país tenha mantido destaque no BTT, graças a Nino Schurter, a transição para a estrada sofreu um interregno após a retirada de Cancellara.
“Depois do Fabian, o ciclismo de estrada perdeu algum brilho”, admite. “Muitos jovens da minha geração viraram-se para o BTT, e as vitórias na estrada tornaram-se mais raras. Mas agora há novos talentos, e com duas equipas suíças bem estruturadas no pelotão, os jovens têm mais oportunidades de crescer sem pressa.”
Entre esses nomes, Schmid destaca Jan Christen, já integrado na UAE Team Emirates - XRG, e Jan Huber, vice-campeão do mundo sub-23 em Kigali.
“Já há algo em movimento”, acrescenta. “Ainda precisamos de tempo, mas o trabalho de base está a dar frutos. Estou convencido de que, graças aos projetos a longo prazo das equipas suíças, todo o movimento vai beneficiar.”

Entre o Tour e o Giro: o próximo desafio

A próxima época promete ser decisiva para Schmid. O suíço planeia iniciar 2026 no Tour Down Under, com as Clássicas de primavera como primeiro grande objetivo.
“O calendário poderá ser semelhante ao de 2024, com pequenas alterações em fevereiro e março”, explica. “Quanto aos Grand Tours, vejo-me mais no Tour, embora gostasse de regressar ao Giro. Mas é difícil estar em grande forma nas Ardenas e logo pronto para três semanas intensas em maio.”
No Tour de 2025, Schmid esteve muito perto de concretizar o sonho. Apenas Jonas Abrahamsen o impediu de conquistar a vitória na 11.ª etapa, em Toulouse, após um duelo a dois que ficou decidido nos últimos metros.
“Foi doloroso, claro”, recorda. “Mas faz parte do jogo. Gostava de ganhar uma etapa da Volta a França e vou tentar outra vez. Antes disso, vou recarregar as baterias em Bali, umas férias merecidas antes de voltar à luta.”

A nova cara do ciclismo suíço

Com a maturidade de quem já experimentou o sucesso e as frustrações do topo, Mauro Schmid representa hoje a ponte entre gerações, o elo entre o legado de Cancellara e a nova vaga de talentos suíços.
Elegante, cerebral e determinado, o ciclista da Jayco AlUla quer continuar a carregar o símbolo da cruz branca não apenas no peito, mas também no pódio.
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