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Volta a Espanha 2025 viveu esta sexta-feira um ponto de viragem monumental. No Alto de l’Angliru, palco mítico da corrida espanhola,
João Almeida derrotou Jonas Vingegaard numa batalha direta pela classificação geral. A vitória do português foi construída sobre um trabalho de equipa exemplar da
UAE Team Emirates - XRG, ainda que com uma ausência notória:
Juan Ayuso.
“É uma loucura, tínhamos um plano no autocarro e acreditávamos mesmo que o João podia vencer o Jonas”, comentou Felix Grossschartner ao Eurosport. “O Jay [Vine] fez um trabalho espetacular e foi bom ver que já não restavam muitos homens. É a segunda vez que faço o Angliru, e hoje pareceu-me ainda mais íngreme.”
O plano estava claro: endurecer a corrida no Alto del Cordal, onde a descida técnica podia isolar rivais, e lançar Almeida para o Angliru com ritmo controlado desde a base. A estratégia resultou, culminando num triunfo histórico sobre o bicampeão da Volta a França.
O silêncio em torno de Ayuso
No início da etapa, Joxean Matxín Fernández tinha sido taxativo: até Juan Ayuso teria de se sacrificar pela liderança de Almeida. No entanto, o espanhol voltou a falhar, ficando para trás na subida anterior e ausentando-se do momento decisivo.
Curiosamente, após a vitória, Matxín optou por não mencionar Ayuso:
“O plano era o João. O Ivo [Oliveira] para lançar no início do Angliru, o Jay Vine, o Felix [Grossschartner], o Domen Novak… todos fizeram um trabalho espetacular. Ganhar ao Vingegaard numa subida tão mítica é fantástico”, disse.
E prosseguiu:
“Sabíamos que era importante sair da curva final à frente. Assumimos a corrida no Cordal porque tínhamos de o fazer. Foi a primeira grande batalha da geral, ainda estamos atrás 46 segundos, mas a Vuelta está longe de acabar.”
Sobre o desempenho do português, Matxín foi claro:
“No Angliru já não lhe demos instruções. Apenas dissemos que os pais estavam na meta e que tinha de lutar pela etapa. Se Vingegaard ficava para trás ou não, já não dependia dele. O João dominou o Angliru e foi o justo vencedor.”
Almeida vence Vingegaard no alto do Angliru
Recado interno?
As declarações do diretor podem ter servido também como aviso indireto a Ayuso:
“É importante porque estamos a correr pelo João. Até aqui havia espaço para integrar fugas em etapas, mas a partir de hoje não. O trabalho e a tática foram perfeitos e que ele [Almeida] saiba que todos estamos com ele.”
Com o triunfo no Angliru, Almeida não só reforça a sua candidatura à vitória final como afirma, pela primeira vez nesta Vuelta, uma clara hierarquia dentro da UAE.