O Alto de l’Angliru voltou a cumprir a sua fama de subida implacável na 13ª etapa da
Volta a Espanha 2025.
João Almeida bateu
Jonas Vingegaard numa das rampas mais duras do ciclismo mundial e conquistou a maior vitória da sua carreira. Para além do triunfo, o português manteve viva uma das estatísticas mais curiosas da prova: em todas as edições em que o pelotão subiu o Angliru, o líder da classificação geral nunca conseguiu vencer a etapa.
João Almeida entrou definitivamente na elite mundial com esta vitória. Durante anos visto como um dos melhores trepadores e candidato ao pódio, o ciclista da
UAE Team Emirates - XRG subiu mais um patamar ao bater o bicampeão da Volta a França. "Estava à espera de um ataque a qualquer momento", admitiu Almeida, surpreendido pela passividade do rival dinamarquês.
A maldição do vermelho
O Angliru não perdoa. A rampa da Cueña les Cabres, com inclinações a roçar os 25%, e os últimos seis quilómetros acima dos 13% voltaram a expor a fragilidade dos homens de vermelho. De Abraham Olano em 1999 a Sepp Kuss em 2023, passando por Froome, Wiggins ou Roglic, nenhum líder resistiu à dureza da montanha asturiana. Vingegaard foi o mais recente a engrossar a lista, cruzando a meta em segundo, incapaz de responder ao golpe final de Almeida.
Os números confirmam o padrão: Heras (2000) em terceiro, Sevilla (2002) em 11º, Martínez (2008) em 23º, Froome (2017) em terceiro, Roglic (2020) em quinto, Kuss (2023) em terceiro. Agora, em 2025, Vingegaard manteve a camisola vermelha, mas falhou no duelo directo.
Jonas Vingegaard mantem a vermelha e a tradição no Angliru.
Conservadorismo ou falta de pernas?
A dúvida instalou-se: o dinamarquês optou por não atacar, ou simplesmente não tinha força? A verdade é que Almeida impôs um ritmo constante e muito duro. "Fiquei surpreendido com o conservadorismo do Jonas", disse o português, que acreditou até ao fim que o ataque surgiria a qualquer momento. Mas nunca chegou!!
Vingegaard protegeu a liderança e continua no comando da geral, mas a margem sobre Almeida diminuiu para 46 segundos. O português demonstrou que a ousadia é muitas vezes recompensada no Angliru. Resta saber se o esforço não terá custos nas próximas etapas de alta montanha.
O legado do Angliru
Quem vence no Angliru, deixa o seu nome na história do ciclismo. Roberto Heras, Alberto Contador e Primoz Roglic figuram na lista de vencedores, e agora Almeida junta-se a esse restrito clube. A sua vitória será recordada não apenas pela dimensão do feito, mas por ter prolongado a tradição que transforma o Angliru num autêntico cemitério de líderes.
A Vuelta segue para La Farrapona e para mais dias de dureza extrema. A camisola vermelha ainda pertence a Vingegaard, mas Almeida já mostrou que não vai desistir e que também ambiciona o triunfo na classificação geral da competição. O duelo está relançado e a corrida promete proporcionar fogo de artificio até Madrid.