"O que se passou foi inaceitável e não pode voltar a repetir-se" Diretor da Volta a Espanha lamenta acontecimentos de Madrid

Ciclismo
segunda-feira, 15 setembro 2025 a 13:30
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O diretor da Volta a Espanha, Javier Guillén, condenou o desfecho caótico da edição de 2025, descrevendo o final marcado por protestos como "inaceitável" e sublinhando que o ciclismo tem de garantir que situações deste género não voltem a repetir-se. Ao mesmo tempo, Guillén procurou afastar-se da decisão polémica de permitir que a Israel - Premier Tech continuasse em prova, remetendo essa responsabilidade para a União Ciclista Internacional (UCI).
A edição de 2025 da Volta a Espanha desenrolou-se sob o peso constante de protestos contra a Israel - Premier Tech, culminando no cancelamento sem precedentes da etapa final em Madrid. As imagens, com a organização forçada a neutralizar etapas, alterar metas e, no fim, abandonar por completo o circuito madrileno, deixaram a corrida com aquilo que o próprio Guillén admitiu ser uma "imagem lamentável".
"Esta foi a Vuelta mais dura", afirmou Guillén numa conferência de imprensa no pós-corrida. "Lamento e condeno o que aconteceu na última etapa. As imagens falam por si. O que se passou foi inaceitável, sobretudo no circuito. Não há nada de positivo a retirar e não pode voltar a repetir-se".

UCI em causa

O momento de maior tensão surgiu em Bilbao, na 11ª etapa, quando incidentes na meta obrigaram à neutralização dentro dos últimos três quilómetros. Com a pressão a aumentar, os organizadores solicitaram à UCI que tomasse posição sobre a continuidade da Israel - Premier Tech.
"Debatemos a situação com a UCI para analisar os acontecimentos", explicou Guillén. "Foi-lhes pedido que tomassem uma posição e emitiram um comunicado a confirmar que Israel podia continuar na corrida. Seguimos os seus critérios, de acordo com os regulamentos. Nenhuma federação vetou Israel. A nível internacional, nenhuma instituição baniu atletas israelitas. Mantivemos a neutralidade, dissemos que havia um problema e deixámos a decisão à UCI. Eles disseram que Israel podia correr, e a equipa correu. A própria equipa também escolheu continuar".
Ao enfatizar o papel do organismo internacional, Guillén quis sublinhar que a decisão esteve fora da sua esfera direta, movimento que deverá alimentar o debate dentro do ciclismo sobre onde recai, em última instância, a responsabilidade nestes cenários.

Um desporto vulnerável

O diretor da Vuelta refletiu ainda sobre a vulnerabilidade estrutural do ciclismo a este tipo de perturbações. Recordando as detenções de manifestantes no GP de Montréal, ontem, Guillén destacou a necessidade de reforçar a vigilância antes de eventos futuros, sobretudo a Grand Départ da Volta a França 2026 em Barcelona.
"O ciclismo é um desporto vulnerável, mas espero que não haja efeito dominó", disse. "Não sei o que acontecerá no futuro, mas trabalharemos para que a Vuelta se realize. Barcelona vai receber a Volta a França. Depois desta Vuelta, as instituições e o desporto têm de tomar decisões. Entre agora e o Tour, espero que tudo esteja resolvido, até o conflito em Gaza".

Entre apoio e desgaste

Guillén confirmou que existiu um contacto permanente com o Conselho Superior de Desportos (CSD) e com o Ministério do Interior de Espanha durante toda a corrida, com forças policiais mobilizadas para proteger ciclistas e equipas. Contudo, reconheceu o impacto negativo das manifestações na imagem da prova. "Quando há um apelo ao boicote e esse apelo se concretiza, isso causa danos. Garantir proteção foi difícil", admitiu, esclarecendo que não se referia diretamente às declarações do Primeiro-Ministro Pedro Sánchez sobre as manifestações.
Apesar da turbulência, Guillén fez questão de enaltecer o esforço coletivo das 3500 pessoas envolvidas na realização da corrida, assim como a dedicação das equipas e ciclistas. "Ninguém abandonou a Vuelta por causa dos debates", sublinhou. "As equipas quiseram correr e nunca disseram o contrário. Tinham o direito de competir, tal como nós tínhamos o direito de organizar".
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