Num anúncio de enorme simbolismo, feito esta segunda-feira, a
Israel - Premier Tech confirmou que vai deixar de se identificar como equipa israelita, iniciando um processo de rebranding que será concluído antes da época de 2026. A decisão encerra mais de uma década de história sob essa bandeira e surge após meses de contestação pública, protestos e crescente escrutínio, num contexto em que o ciclismo profissional tem enfrentado cada vez mais a intersecção entre o desporto e a política.
A formação nasceu há onze anos como Cycling Academy, um projeto com o objetivo de desenvolver jovens talentos de países sem tradição ciclística, entre os quais Israel. Com o tempo, o projeto evoluiu para Israel - Premier Tech, há quatro anos, alcançando resultados expressivos, como vitórias em etapas da Volta a França, mas também enfrentando o desafio da despromoção e posterior regresso ao escalão máximo das Grandes Voltas.
Retroceder para avançar
No seu
comunicado oficial, a equipa reforçou que a sua essência “sempre foi um projeto desportivo” e não uma plataforma política. No mesmo comunicado, reconheceu “os desafios dos últimos meses” e admitiu que as pressões externas aceleraram o processo de mudança de marca, que foi descrita como “fundamental para assegurar o futuro da equipa”.
Um dos pontos centrais desta reestruturação é o afastamento progressivo de
Sylvan Adams, fundador e principal investidor, que deixará de estar envolvido nas operações diárias. Adams concentrar-se-á nas suas funções enquanto Presidente do Congresso Judaico Mundial, em Israel. “O progresso muitas vezes exige sacrifício”, refere o comunicado, sublinhando uma separação clara entre a gestão desportiva da estrutura e a liderança institucional que a acompanhou até aqui.
Embora os detalhes sobre a nova identidade permaneçam confidenciais, a equipa assegurou que o projeto de formação global se mantém inalterado, prometendo continuar a apoiar jovens talentos internacionais. Este reposicionamento visa também proteger ciclistas e staff da pressão política que tem acompanhado a equipa nas últimas temporadas, procurando devolver o foco às corridas e não às polémicas.
Sob o peso da controvérsia
Durante a
Volta a Espanha 2025, a equipa enfrentou protestos visíveis ao longo das etapas, tornando-se um dos temas mais debatidos do final da época. A sua ligação a Israel transformou-a num verdadeiro para-raios dentro do pelotão internacional, suscitando tanto solidariedade como críticas. Várias equipas e ciclistas manifestaram desconforto, enquanto internamente a estrutura manteve a coesão graças a uma cultura de resiliência e ao compromisso com o desempenho desportivo.
Sylvan Adams, sempre um defensor intransigente do projeto, insistiu publicamente que “os ciclistas devem ser julgados apenas pelo mérito desportivo”. No entanto, este último passo parece representar uma tentativa definitiva de encerrar o debate político que tem envolvido a equipa desde o início da guerra em Gaza, abrindo caminho para um novo ciclo.
À medida que se aproxima a temporada de 2026, o mundo do ciclismo observa com expectativa o renascimento desta estrutura, que entra agora num novo capítulo da sua história. Entre o legado de vitórias e a necessidade de reconstrução, a equipa rebatizada procurará reafirmar-se como um projeto global, voltado para o talento e para o rendimento, deixando para trás uma era em que a política ofuscou os feitos desportivos.