OPINIÃO - Deveria Isaac del Toro ter alinhado na Volta a França?

Ciclismo
terça-feira, 15 julho 2025 a 21:30
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À chegada do primeiro dia de descanso da Volta a França de 2025, os contornos estratégicos da corrida começam a delinear-se com nitidez, e uma das grandes diferenças emergentes é a disparidade entre UAE Team Emirates - XRG e a Team Visma | Lease a Bike no que toca à profundidade do bloco de montanha. Embora Tadej Pogacar mantenha a dianteira da luta pela geral, com 1:17 de vantagem sobre Jonas Vingegaard, é nas estruturas de apoio que se percebe uma fragilidade preocupante para o esloveno.
A queda e desistência de João Almeida expôs de forma crua a vulnerabilidade da UAE quando a estrada se empina. Adam Yates mantém-se como o gregário de confiança, Marc Soler continua fiável dentro dos seus limites, mas para lá destes dois nomes, o apoio a Pogacar escasseia. Pavel Sivakov tem estado longe do melhor nível, Tim Wellens não é trepador e a ausência de Isaac Del Toro começa a revelar-se como um erro estratégico difícil de justificar.
O jovem mexicano foi uma das grandes revelações da última Volta a Itália. Inicialmente encarregado de apoiar Juan Ayuso e Adam Yates, Del Toro acabou por quase roubar o protagonismo, lutando pela Camisola Rosa até ao fim. Um ataque prematuro no Colle delle Finestre afastou-o da vitória final, mas a exibição convenceu todos de que está pronto para se afirmar como candidato a classificações gerais, ou como um gregário de luxo ao serviço de um líder.
Esse potencial foi reforçado pela sua exibição dominante na Volta à Áustria, onde venceu três etapas e a classificação geral com uma frescura impressionante. A ideia de o “proteger” do Tour parece cada vez mais exagerada quando se observa o que Simon Yates está a fazer em França (precisamente o ciclistas que o venceu no Giro), depois de acabar de ganhar uma etapa de montanha.
A Visma apresenta um verdadeiro bloco de luxo nesta Volta a França
A Visma apresenta um verdadeiro bloco de luxo nesta Volta a França
Enquanto Simon Yates se junta agora a Sepp Kuss e Matteo Jorgenson como peças essenciais da Visma, a UAE vê-se obrigada a pedir a Soler e Yates que dêem o melhor de si, mas dificilmente conseguirão colmatar a perda de João Almeida. A decisão de deixar Del Toro em casa pode revelar-se mais do que conservadora, pode ter sido um erro de planeamento.
É certo que a UAE investe no desenvolvimento do mexicano e pretende integrá-lo gradualmente no calendário de Grandes Voltas, mas o contexto competitivo desta Volta a França exige respostas imediatas. Este não é um plano de longo prazo. É uma batalha de desgaste entre duas equipas superdotadas, onde qualquer vantagem, por mínima que seja, pode ser decisiva. E neste momento, a Visma surge claramente mais preparada para o embate nas montanhas.
Em 2024, Pogacar teve ao seu lado Yates, Almeida e Ayuso, num trio de luxo que permitia rodar funções e preservar energias. Mesmo com o abandono precoce de Ayuso, UAE mantinha dois homens com ambições legítimas à geral (e ambos acabaram por terminar no top-6). Este ano, sem Almeida e sem Del Toro, o cenário muda completamente.
A Visma, por outro lado, entra na segunda semana com um bloco de montanha digno de uma equipa de líderes: Kuss, vencedor da Vuelta, Jorgenson em plena ascensão, e Simon Yates a somar triunfos. Qualquer um deles poderia discutir a geral. Estão agora a serviço de Vingegaard.
Com os Pirenéus ao virar da esquina e a promessa de dias de montanha brutais nos Alpes, Pogacar mantém-se como o ciclista mais forte em prova, mas terá de enfrentar o que parece ser um déjà vu de 2022: um Vingegaard rodeado por um exército de apoio, capaz de endurecer a corrida até o adversário ficar isolado.
A ausência de Del Toro pode não ser fatal para as ambições do líder da UAE, mas poderá marcar a diferença entre o controlo e a sobrevivência nas etapas decisivas. Quando o Tour chegar às etapas mais complicadas, a falta de um terceiro homem forte poderá expor Pogacar de forma cruel. E se isso acontecer, a UAE poderá arrepender-se de ter deixado um trunfo em casa.
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