Patrick Lefevere critica o mau posicionamento de Ethan Hayter no pelotão: "Pessoalmente, isso dá-me arrepios"

Ethan Hayter é um ciclista cujo talento nunca esteve em causa, mas cujo posicionamento dentro do pelotão continua a levantar dúvidas. Nos últimos anos, o britânico tem sido frequentemente visto nas posições traseiras durante as corridas, algo que pode não ser prejudicial em certas circunstâncias, mas que não agrada a todos. Um desses críticos é Patrick Lefevere, antigo diretor da Soudal - Quick-Step, que voltou a abordar o tema na sua habitual coluna semanal no Het Nieuwsblad.

"Continuo a pensar que ele é um ciclista especial: um grande motor, mas sempre na parte de trás do pelotão num alinhamento", escreveu Lefevere, de forma irónica. "O nosso 'poo sponsor' (refere-se ao patrocinador na parte de trás dos calções) Renson está sempre presente, por isso eles beneficiam com isso".

As palavras de Lefevere deixam claro que, apesar de reconhecer a qualidade de Hayter, não esconde a frustração por ver um corredor tão promissor a não explorar, na sua opinião, todo o potencial que possui. "Pessoalmente, isso dá-me arrepios. O Hayter devia ir ao Tour? Eu não o faria", afirmou o belga, ainda que a sua observação pareça desfasada da realidade competitiva do ciclista da Soudal - Quick-Step.

Hayter, com efeito, dificilmente será opção para a Volta a França. O britânico participou na Volta a Itália e tem mantido uma agenda competitiva preenchida em junho, com passagens pela Volta à Bélgica e os campeonatos nacionais.

Apesar disso, Hayter tem demonstrado estar em grande forma. Na Volta à Bélgica, venceu o contrarrelógio individual batendo Filippo Ganna, um dos especialistas mais dominantes da disciplina, e terminou a prova no segundo lugar da classificação geral. Já esta semana, reforçou o seu palmarés ao conquistar o título britânico de contrarrelógio, cimentando o seu estatuto como um dos mais talentosos “roladores” do pelotão internacional.

Enquanto isso, Lefevere vira as atenções para os campeonatos nacionais da Bélgica, onde a Soudal - Quick-Step apresentará dois nomes de peso: Tim Merlier e Remco Evenepoel. O objetivo é recuperar a camisola de campeão nacional antes da Volta a França, e o dirigente não esconde a confiança no líder da equipa.

Comentando as hipóteses de Evenepoel fazer a dobradinha, depois de ter conquistado o título de contrarrelógio na sexta-feira, Lefevere reconheceu que o percurso da prova em linha não favorece totalmente o seu estilo. "Um percurso sem muito relevo e com paralelepípedos não é o seu género, mas num pelotão belga ele está numa classe à parte. Mesmo que Wout van Aert participe".

Evenepoel, que continua a afinar a sua forma para o Tour, poderá assim tornar-se o primeiro ciclista desde Philippe Gilbert, em 2011, a conquistar ambos os títulos nacionais no mesmo ano. Quanto a Hayter, a incógnita permanece: será que o talento excecional que exibe contra o relógio e nos finais inclinados se vai finalmente traduzir em maior consistência e protagonismo nas grandes corridas?