Philippa York, antiga ciclista profissional e atual analista desportiva, fez uma análise final da Volta à Itália 2025. A britânica de 66 anos, dissecou a corrida e a vitória do compatriota Simon Yates.
"Imaginem o ambiente dentro do autocarro da
Team Visma - Lease a Bike na manhã da etapa 20 deste conto de fadas da Volta à Itália.
Isaac Del Toro (UAE Team Emirates - XRG) e
Richard Carapaz (EF Education-EasyPost) haviam recuperado 21 segundos na última subida, graças à capacidade de explosão deles, enquanto o Simon Yates ficava no grupo dos principais favoritos à geral", começou por descrever York no CyclingNews.
A analista traçou um paralelo com a Volta a França de 2022: "Lembram-se do episódio de Primoz Roglic e Jonas Vingegaard contra Tadej Pogacar no Col du Galibier? A Jumbo-Visma a superiorizar-se à UAE, e, naquela altura, o erro foi deixar o seu líder isolado. Parecia impensável que voltassem a cair na mesma armadilha táctica. Pogacar, em vez de esperar pelos colegas, respondeu directamente ao Roglic. Mas o problema maior foi outro: a UAE havia desgastado a sua equipa nas etapas anteriores e perdeu o controlo."
Sobre a etapa 20, foi crítica: "Deixar Wout van Aert alinhar sem que ninguém da UAE fosse para a fuga para controlar a sua posição na classificação geral, diz-me que a equipa não aprendeu com os erros do passado."
York prosseguiu a análise: "Há muitas leituras possíveis sobre o que aconteceu nas duríssimas rampas do Colle delle Finestre. Terá sido uma redenção para Simon Yates, lembrando o ataque devastador de Froome em 2018? Terá Isaac Del Toro falhado ao não colaborar com Carapaz? Ou deveria Carapaz ter persistido, sabendo que não conseguiria soltar o líder, já que terminar em segundo é sempre melhor do que terminar em terceiro? No final, todas as interpretações giram em torno de decisões individuais tomadas em momentos chave, mas centrar o debate apenas nisto é redutor."
Carapaz e Del Toro na gravilha do Colle delle Finestre
York não poupou Del Toro nem Carapaz: "É verdade que se pode argumentar que Del Toro deveria ter feito causa comum com Carapaz. Também é legítimo questionar porque motivo Carapaz não fechou a diferença para Yates antes da gravilha, já que aparentava ter capacidade para isso. Talvez Del Toro também tivesse, mas preferiu não arriscar."
Assumiu ainda que os erros não ficaram só na inércia dos ciclistas: "As falhas estratégicas no meio da etapa foram evidentes. Carapaz não quis trabalhar com Del Toro, nem assumir a responsabilidade de reduzir o fosso para Yates, mesmo vendo o Camisola Rosa em dificuldade."
Por fim, centrou o foco na UAE Team Emirates: "As maiores dúvidas recaem sobre a UAE e não apenas pelas decisões do último dia. O problema é estrutural e remonta ao Col du Granon, quando Pogacar perdeu a Volta a França. Há sinais de que a equipa não aprendeu com essas lições."
O pódio da Volta à Itália 2025 foi fechado com Simon Yates no topo, seguido por Isaac Del Toro e Richard Carapaz.
Sobre o desfecho, York resumiu: "A UAE cometeu erros que já deveriam ter sido corrigidos. No caminho para Sestriere, repetiram lapsos estratégicos. Del Toro podia ter colaborado com Carapaz na gravilha. Mesmo que o equatoriano tivesse conseguido isolar-se antes do topo, era provável que o Camisola Rosa anulasse a diferença na descida."