“Talvez a melhor forma de vencer Pogacar seja jogar uma carta diferente” – selecionador belga admite que Remco Evenepoel pode não ser a melhor opção da seleção

Ciclismo
quinta-feira, 27 novembro 2025 a 11:00
Remco Evenepoel
O selecionador belga, Serge Pauwels, sugeriu que Remco Evenepoel pode não ser sempre o ciclista em torno do qual a Bélgica deve construir quando tenta derrotar Tadej Pogacar nos grandes campeonatos.
Numa extensa entrevista ao DirectVelo, Pauwels traçou uma visão mais flexível para Montreal 2026, uma abordagem que até pode passar por a Bélgica vencer sem colocar tudo nos ombros de Evenepoel.
Olhando para o percurso explosivo do Campeonato do Mundo em Montreal, Pauwels admitiu abertamente um cenário em que a Bélgica apoia outro líder no final. “Se a corrida decorrer como o último Grand Prix de Montreal, será uma longa prova de desgaste. Uma espécie de contrarrelógio por equipas. Nesse caso, é preciso aguentar, poupar, poupar, poupar. Por vezes, um corredor como Tiesj Benoot pode tentar algo oportunista. Talvez a melhor forma de bater Pogacar seja jogar uma carta diferente da de Remco, que pode sempre fazer a sua própria corrida em determinado momento”.
Em muito jovem idade, Paul Seixas já subiu ao pódio do Campeonato da Europa ao lado de Tadej Pogacar e Remco Evenepoel
Evenepoel foi prata no Europeu e no Mundial de estrada
É uma afirmação marcante de um selecionador cujas escolhas muitas vezes giraram inteiramente em torno de Evenepoel. Mas Pauwels insiste que o traçado e a dureza do ciclismo moderno significam que a Bélgica não se pode prender a um único guião.

“Temos de valorizar este período… não vai durar para sempre”

Apesar da nuance tática e do “quebra-cabeças” Pogacar, Pauwels é taxativo: a Bélgica vive uma era especial.
“Creio que o balanço é muito positivo. Se olhar para as minhas categorias - Elite Masculina e Sub-23 Masculina - saímos com oito medalhas no total: três nos Mundiais e cinco no Campeonato da Europa. O Remco esteve sublime, mas alguém esteve ainda melhor. Sem esse corredor, o Remco teria provavelmente duas medalhas diferentes… mas não se pode pensar nesses termos. O Ilan Van Wilder também foi fantástico com a sua medalha. No Europeu, Vervenne e Van Kerckhove nos Sub-23 fizeram ouro e prata, não dá para fazer melhor”.
Para Pauwels, o contexto é essencial. “Temos de valorizar este período. Há dez anos, teríamos assinado de imediato por resultados assim. E não vai durar para sempre. A única desilusão foram os Mundiais Sub-23 com o Widar, mas ele compensou logo com o título europeu”.
Esse equilíbrio, entre maximizar Evenepoel, gerir expectativas e alimentar a próxima vaga, atravessa toda a entrevista.

Porque é que Evenepoel acaba tantas vezes sozinho

Um tema recorrente nos Mundiais e no Europeu foi o isolamento de Evenepoel quando a corrida entra na fase decisiva. Pauwels aponta para o azar e para a evolução da modalidade.
“Há duas razões. Primeiro, nos Mundiais, o Ilan Van Wilder caiu e o Tiesj Benoot não estava presente. São duas baixas de peso. Segundo, os finais começam muito cedo agora: é quase mano-a-mano a 70 quilómetros do fim. Há dez anos, ainda se podia chegar com sete ou oito juntos às duas últimas voltas. Hoje, as corridas explodem muito mais depressa”.
A mudança de Evenepoel para a Red Bull - BORA - Hansgrohe, e a promessa de uma estrutura de suporte de alta tecnologia, foi inevitavelmente enquadrada como o projeto que deve encurtar a diferença para Pogacar. Pauwels gosta do rumo, mas mantém os pés no chão.
“Essa é a nossa esperança. Ouço dizer que voltam ao túnel de vento, trabalham com especialistas como o Dan Bigham. São ‘marginal gains’. Não é uma revolução, já são muito bons. Para chegar ao nível de um Pogacar de Tour ou de Mundiais, certamente vai demorar mais de um ano. Mas esse é o desafio dele. E também depende do Pogacar: pode estar menos bem… ou ainda melhor. Neste momento, a diferença ainda é grande”.
Para Pauwels, a verdadeira diferença não é só a potência de pico, é o quão fresco Pogacar ainda está quando arranca. “Penso que sim. Muita gente foca-se nos números dos ataques, mas a chave é o estado em que chegas à subida. Na Lombardia, todos já estavam ‘mortos’ quando ele atacou. Não é o esforço de um minuto que conta, é chegares fresco antes do esforço. Portanto, sim, a base está lá. Os corredores têm de trabalhar a frescura na aproximação aos momentos-chave de uma corrida”.

Widar como “plano B”, a ambição de Van Aert para Montreal e a vaga Sub-23

Pauwels não pensa numa seleção de um só homem para o próximo ciclo. Jarno Widar, que passa a profissional com um programa ambicioso, já está no radar para um papel secundário. “Coresponsável com o Remco, ainda não. Mas um plano B? Sim, penso nisso. Se a progressão continuar, pode apontar a top 10 em etapas de Grandes Voltas. Já bateu o Seixas duas vezes, e vemos o que o Seixas está a fazer. Se tivesse corrido com os Elites em Ardèche, podia ter terminado no top 10. Para Montreal, já me disse que está interessado”.
Depois há Wout van Aert, cujos objetivos também mudaram para Montreal após ficar de fora da discussão do traçado de Kigali nos Mundiais. “Disse-me que está ambicioso para Montreal. Este ano, em Kigali, o percurso era demasiado duro para ele, mas espero uma grande primavera. Com o Wout, é sempre uma questão de diálogo e transparência”.
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