"Talvez num diazinho senti a falta de apoio" João Almeida sobre a estratégia da Emirates durante a Volta a Espanha

Ciclismo
quinta-feira, 18 setembro 2025 a 8:07
JoaoAlmeida
Foi um dos grandes protagonistas da Volta a Espanha 2025 e é hoje um dos nomes maiores do ciclismo internacional. João Almeida, 27 anos, natural de A-dos-Francos, voltou a colocar Portugal no pódio da corrida espanhola, 51 anos depois da última vez, quando Joaquim Agostinho terminou entre os três primeiros. Este domingo, o ciclista da UAE Team Emirates - XRG encerrou uma temporada de sonho, com dez vitórias, três provas por etapas conquistadas e um triunfo histórico no Angliru, coroado pelo segundo lugar da classificação geral, apenas atrás de Jonas Vingegaard (Team Visma | Lease a Bike).
A prestação do português, que resistiu à queda sofrida na Volta a França e à ausência de um bloco forte nos momentos decisivos, reforçou o estatuto de Almeida como um dos melhores voltistas da atualidade. O "Bota Lume" é agora quinto no ranking mundial da UCI, apenas atrás do colega de equipa Tadej Pogacar, Vingegaard, Mads Pedersen (Lidl-Trek) e Mathieu van der Poel (Alpecin-Deceuninck). No que toca a corredores de grandes voltas, surge no terceiro posto, logo a seguir aos "extraterrestres". Para a reta final da época, o grande objetivo passa pelos Europeus, que arrancam em França no início de outubro, onde liderará a Seleção Nacional ao lado de Afonso Eulálio (Bahrain-Victorious), António Morgado (UAE), Nelson Oliveira (Movistar, apenas no contrarrelógio) e Rui Costa (EF Education-EasyPost). Já os Mundiais do Ruanda não fazem parte dos planos.
Em entrevista ao programa E o Campeão é…, da Rádio Observador, Almeida recordou a conquista no Angliru como uma "vitória histórica e especial": “Foi muito bom. A sensação que tenho é que não daria para vencer. Terminamos num belo segundo lugar e com aspirações para fazer melhor no futuro. Até ao último quilómetro da etapa 20 sempre acreditei. Aí atirei a toalha ao chão, porque o Vingegaard estava na frente. Nos últimos dias sentia-me doente, estava engripado. Não tinha nada a perder. Dei o meu máximo e tentei deixá-lo em dificuldades. Não deu".
Almeida explicou também a evolução do seu posicionamento no pelotão: "Colocação? Tem vindo a melhorar bastante. Já foi muito pior. Coloco-me na posição de poupar energia. O segredo é saber quando não gastar energia. A minha capacidade de ‘esticar’ é bastante boa, mas às vezes estou muito no limite e não consigo. Prefiro deixar para o fim o esticão. Tento sempre correr da forma mais inteligente que consigo e deixar para o fim as chamadas Almeidadas".
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O grande momento de João Almeida na passada Vuelta foi a vitória no Angliru
Sobre as críticas à equipa na Vuelta, o português foi claro: "Talvez num diazinho senti a falta de apoio. No geral estivemos excelentes e a equipa apoiou-me bastante. Chega a um certo ponto em que é cada um por si e que ter um companheiro não faz diferença. Não estivemos perfeitos, mas demos o nosso melhor".
Na mesma conversa, abordou ainda fugas, contrarrelógio e a saída anunciada de Juan Ayuso: "Fugas? Não se pagou o preço. Há etapas que não são para a geral, que são para a fuga. As etapas que eles venceram foram dias para a fuga. Contrarrelógio? Sendo um contrarrelógio plano, a vantagem estava do meu lado. Em 27 quilómetros ganharia mais [tempo], mas acredito que não faria diferença para ganhar a Vuelta. Ayuso? Já sabíamos que ele ia sair da equipa [antes do início da Vuelta]. Não sei porque é que a equipa quis anunciar nessa altura [durante a corrida]. Penso que ele queria oportunidades. Numa equipa com Pogacar não é fácil fazer toda a gente feliz. É o melhor de sempre. O que ele faz quase ninguém fez".
Sobre a estratégia da UAE, Almeida acrescentou: "De início, a liderança era termos dois líderes. Ia ser bom porque a Visma só tinha um. Sabíamos a realidade, que a preparação do Ayuso não tinha sido a melhor. Na etapa de Andorra houve uma desconexão mental [de Ayuso] e as coisas ficaram mais esclarecidas".
Também destacou a gestão fora da estrada: "Ter a camisola vermelha implica ir à cerimónia do pódio, entrevistas, conferências de imprensa… perde-se uma hora e meia na recuperação. Tudo conta no final de 21 etapas e temos de priorizar a recuperação".
Questionado sobre a Volta a Portugal, deixou um diagnóstico claro: "Antigamente tinha mais interesse e valor. Hoje em dia não tem tanto. Tem vindo a perder a sua essência e o seu valor. A grande montra é lá fora. No início, a evolução deve ser feita cá, mas lá fora é onde há mais experiência e conhecimento. É mais duro, mas a recompensa é maior. A Seleção foi muito importante para o meu desenvolvimento".
Recordou ainda o "pódio improvisado": "Foi um belo pódio humilde, num parque de estacionamento, em que os lugares eram geleiras. Foi organizado pela Visma e a Q36.5. Gostei porque foi simples, uma coisa de amigos. Foi um dos melhores momentos da minha carreira".
Quanto ao futuro, o português não esconde a ambição: "O objetivo é ganhar uma Grande Volta. Já estou satisfeito com o meu palmarés de corridas de uma semana. Se é o Giro, Tour ou Vuelta, não sei. Ainda não preparámos a próxima temporada e temos de conciliar com o Tadej. Gostava de voltar ao Giro, porque tenho uma história especial com o Giro. Gostava de voltar e discutir a corrida. A Volta a França é número um e isso sente-se claramente".
Sobre a decisão de abdicar dos Mundiais, Almeida explicou: "É opção minha. Não ia chegar bem e a preparação não ia ser boa. Preferi dar oportunidade a outro atleta. Fazer número não fazia sentido. Gosto muito da minha equipa, mas ter a bandeira de Portugal ao peito dá outra sensação. Só quem representa percebe o sentimento que é. Estamos a representar o nosso país, sem interesses de patrocinadores, e queremos dar o nosso melhor. Ficar nos dez primeiros [do Europeu] seria um bom objetivo".
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