Muito se disse sobre a
Volta a Espanha 2025, onde a Team Visma | Lease a Bike e a
UAE Team Emirates - XRG foram claramente as duas equipas mais fortes, mas com abordagens táticas radicalmente diferentes. Entre os analistas, levantou-se a hipótese de
João Almeida poder ter vencido a corrida se a equipa tivesse apostado exclusivamente nele desde o início.
Johan Bruyneel, contudo, considera que esse cenário não mudaria o desfecho.
"Na minha opinião, uma tática diferente não teria alterado o resultado. Simplesmente não me pareceu realista. Tinham um líder, mas também vários ‘agentes livres’, cada um à procura de vitórias em etapas e sem estar presente quando era realmente preciso. Mas teria feito alguma diferença? Eu diria que não", analisou Bruyneel no podcast The Move, com Spencer Martin.
Almeida terminou a prova a apenas 1:16 de Jonas Vingegaard, mas as únicas ocasiões em que conseguiu ganhar tempo ao dinamarquês foram nos contrarrelógios e na etapa do Angliru (em bonificações).
A leitura da corrida
"Estamos aqui sentados a analisar tudo a partir dos nossos ecrãs, mas a equipa sabe melhor do que ninguém quais são os números de potência que cada ciclista consegue atingir. Talvez desde o início tivessem consciência de que seria extremamente difícil para Almeida largar Vingegaard", explicou o antigo diretor desportivo belga. Ainda assim, reconheceu compreender as críticas a uma equipa que tentou dividir-se em vários objetivos.
"No caso da Emirates, para quê preocupar-se com vitórias em etapas e com a camisola da montanha? Podiam ter tentado vencer uma Grande Volta com alguém que não fosse Pogacar. Isso teria sido fantástico. Mas, no final, foi uma Vuelta excelente para eles: sete etapas, segundo lugar na geral e a camisola da montanha. São, de longe, a melhor equipa do pelotão neste momento".
Almeida podia ter vencido com outra tática?
A grande questão é precisamente essa. O português queixou-se da falta de apoio, sobretudo na subida à Estación de Valdezcaray, onde Vingegaard construiu a maior diferença na corrida. Foi nesse dia que Almeida acabou por ceder perante a superioridade do dinamarquês. Enquanto isso,
Juan Ayuso, Jay Vine e Marc Soler focavam-se em procurar vitórias parciais e conseguiram, revelando que as prioridades dentro da equipa estavam divididas.
"No final, a crítica não é tanto às táticas coletivas, mas ao comportamento individual de alguns ciclistas. Podíamos especular sobre se a tática era a A, mas alguns optaram pela B. Especialmente no início, houve algum desencontro com Ayuso. Mas isso manifestou-se mais fora da estrada, com o famoso comunicado de imprensa", lembrou Bruyneel.
A partir da 13ª etapa, o bloco reagrupou-se e passou a dar mais apoio ao português. Ainda assim, em todas as chegadas em montanha subsequentes, Vingegaard manteve-se inabalável e não perdeu tempo para Almeida.
"Na etapa 20, por exemplo, já com Ayuso a trabalhar para a equipa, todos estiveram ao lado de Almeida e desempenharam o papel esperado. E, mesmo assim, não havia nada a fazer contra o Jonas", sublinhou Bruyneel.
Mais simples do que parece
A análise final do belga deixa uma mensagem pragmática: "Poderiam ter feito as coisas de forma diferente nas fases anteriores? Talvez. Mas falamos muito de táticas e estratégias, e muitas vezes é mais simples do que parece. No fim de contas, só é preciso ter pernas para andar".