O recém-coroado campeão europeu de
ciclocrosse,
Toon Aerts, nunca hesitou em avaliar o ciclismo com frontalidade.
Em extensa conversa com a Humo, deixou uma das opiniões mais contundentes dos últimos tempos, afirmando que o pelotão masculino tem caído em padrões previsíveis sob a dominância de
Tadej Pogacar.
Ao abordar o que torna o desporto de alta competição realmente envolvente, Aerts falou sobre o impacto das grandes figuras e o modo como moldam a dinâmica das corridas. “Figuras assim costumam atrair mais adeptos. O Wout e o Mathieu atraem multidões quando alinham, há sempre mais gente.
O Thibau também é uma dessas figuras, embora ainda não seja dominante em vitórias. Faz declarações que geram reação e tem mais aura do que o ciclista médio.”
Foi então que surgiu a frase que promete dividir opiniões entre os adeptos que debatem se a supremacia de Pogacar acrescenta ou retira emoção às corridas:
“Talvez a diversidade também torne as coisas mais interessantes. Na estrada, o Pogacar ganha tudo. Na minha opinião, isso é um bocadinho aborrecido.”
Uma avaliação direta, especialmente vinda de alguém cuja carreira correu maioritariamente em confronto com
Wout van Aert e
Mathieu van der Poel nos terrenos enlameados do ciclocrosse.
Aerts encontra “novo impulso” na estrada após salto inesperado
Curiosamente, apesar de considerar previsível o topo do ciclismo de estrada, a própria campanha de Aerts em 2025 fugiu ao padrão habitual. A parceria entre a estrutura dedicada ao ciclocrosse e a
Lotto catapultou-o pela primeira vez para o calendário World Tour, experiência que admite, alterou por completo a perceção sobre os seus limites.
“Este verão descobri o ciclismo de estrada no WorldTour. Isso deu à minha carreira, sobretudo devido à minha idade, um novo impulso. Pode até prolongá-la.”
Aerts conquistou recentemente o título europeu de ciclocrosse
Sem nunca se ter visto como trepador puro, Aerts registou desempenhos consistentes em provas por etapas como a Volta à Grã Bretanha e a Volta à Bélgica, resultados que o surpreenderam.
“Este verão mostrei, na Volta à Grã Bretanha e na Volta à Bélgica, que lido bem com finais em subida e com ascensões de dois ou três minutos. Para um corredor com a minha compleição e peso, nunca esperaria isso.”
A mudança foi mais do que física. Aerts assumiu um papel tático determinante ao guiar sprinters em chegadas tensas, factor chave na vitória da Lotto na Renewi Tour com Arnaud De Lie. “A sensação que tive dentro da equipa nessa altura foi intensa. Quando consegues ajudar a conduzir um colega à vitória, é uma adrenalina que adoraria sentir novamente.”
Conversas para a estreia numa Grande Volta já arrancaram: “Agora é perceber que estratégia me favorece mais”
O próximo objetivo está definido. Aerts e a equipa iniciaram o planeamento para a estreia numa Grande Volta em 2026.
O belga acredita ter capacidade para desempenhar vários papéis, conforme as ambições da equipa para a geral e para etapas:
“Com o Arnaud temos alguém com quem podemos apontar a vitórias de etapa e com o Lennert Van Eetvelt alguém para a geral. Agora é perceber que estratégia me favorece mais.”
Pela combinação entre proteção aos sprinters, evolução crescente em subida e uma leitura de corrida cada vez mais refinada, Aerts considera que acrescenta hoje uma verdadeira versatilidade ao projeto de estrada da Lotto.
E embora veja a superioridade de Pogacar como “um bocadinho aborrecida”, a sua própria reinvenção na estrada dificilmente cabe nessa descrição. A eventual estreia numa Grande Volta em 2026 seria mais um capítulo de uma das transições mais inesperadas e interessantes do ciclismo belga moderno.