A três dias do arranque da Volta a Espanha, que este ano celebra o seu 90.º aniversário com partida em Turim,
João Almeida prepara-se para a sua quarta participação consecutiva na prova. Desde a estreia em 2022, quando surpreendeu ao terminar em quarto lugar, o português consolidou-se como uma das figuras de referência do pelotão internacional, mas chega a esta edição com expectativas equilibradas, depois da queda que o obrigou a abandonar a Volta a França.
"Infelizmente tive de abandonar o Tour devido à queda, o que me limitou muito na preparação para a Vuelta. No fundo, treinei apenas duas semanas, pouco mais, a 100 por cento, sem limitações. Mesmo assim, creio que estou num ponto de forma física minimamente bom. Perante isto, darei o melhor, e ver como é que acabo...", explicou o corredor da
UAE Team Emirates - XRG, em conversa com o Falso Plano e A Bola.
Optimismo cauteloso
Almeida reconhece que parte para a corrida com optimismo mais moderado do que o habitual. "Tem a ver com a diferença de preparação, que também foi outra para o Tour, melhor, sem percalços, sem quedas... Eu estou optimista para a Vuelta, mas temos de ter os pés bem assentes na terra. Treinei duas semanas e meia sem limitações após a queda... é pouco. Obviamente, tenho uma temporada por trás, mas uma paragem de dez dias, sem treinar, sem bicicleta, sem fazer nada. Claro que o corpo ressente-se."
Ainda assim, o português sublinha que se sente pronto para evoluir ao longo das três semanas de competição: "Estou numa forma boa, aceitável, sinto-me bem na bicicleta. Espero ir em crescendo, semana após semana. Creio que podemos estar optimistas, ainda que sempre com os pés assentes no chão, como já disse, e focados no importante, que é na corrida. E poupar-me ao máximo."
Preparação limitada
A recuperação da fractura correu bem, mas a preparação foi curta. «Estive 10 ou 11 dias sem tocar na bicicleta. Em repouso total. Depois comecei a pegar nela, a andar de bicicleta um pouquinho e tal, mas nada de especial. Só mais tarde, em termos de treino, a treinar efectivamente, foram duas semanas e meia. Senti-me bem e creio que estou bem. Mas claramente não é uma preparação longa, sólida. Estou confiante, mas é um desafio grande. São três semanas ao mais alto nível. Contra Jonas Vingegaard, que está em grande forma. Está sempre... Então, temos de ter algum recato, sermos cuidadosos na abordagem à corrida. Mas vou confiante à Vuelta, e acho que estou em boa forma."
Apesar das limitações, a Emirates aposta em João Almeida como líder ou colíder. "Já temos uma relação [com os dirigentes da equipa] há alguns anos. Já todos nos conhecemos, já conhecem o nosso valor. Também tenho demonstrado este ano, mas não só este ano, em todos os anos, a minha consistência, a minha forma física e que sou uma garantia. E por isso, creio que podemos começar esta Vuelta confiantes, de que estaremos bem, mas ao mesmo tempo com a boa noção da realidade, de que nem tudo pode correr na perfeição. Vou à luta, sem medo."
João Almeida já conta com 3 vitórias à geral em 2025: País Basco, Romandia e Suíça.
A forma atual
Questionado sobre a sua condição física e psicológica, o português não hesitou em quantificar: "Diria, se calhar, uns 90 e pouco por cento. A forma é boa, mas não me sinto, assim, digamos, no meu melhor. No entanto, são três semanas, temos tempo para nos sentirmos a 100%, não é?! Porque é uma corrida muito longa e acabamos também por ir treinando e evoluindo durante a competição, dia a dia, semana a semana."
Para João Almeida, a chave estará na gestão: «Quando se começa com frescura física e um bom estado de forma, vamos melhorando e adquirindo uma melhor forma física ao longo da corrida. Por vezes, começamos já muito no nosso limite e com algum cansaço, e acabamos por terminar mal e cansados. É também saber gerir isso, e lá está, poupar ao máximo os dias que derem para poupar, que derem para recuperar. E nos dias de dar tudo, talvez fazer diferenças, quem sabe. Apostar tudo e sem medo."
A dureza da Vuelta
O português sabe bem o que o espera em Espanha: «Sim, a Vuelta é sempre uma corrida muito explosiva, muito dura. Não há, digamos assim, muitas fases de etapas planas, para os sprinters, ou sempre com subidas, é uma mistura total. Temos dez chegadas em alto, mas estão espalhadas pelas três semanas. Etapas assim, que são aquelas etapas que pode acontecer muita coisa ou pode não acontecer nada. Temos de que estar sempre atentos a surpresas. Portanto, é um bocadinho todos os dias de dureza. A Vuelta é sempre assim, é uma corrida especial. Eu gosto da Vuelta."