Primoz Roglic não parece gostar do caminho mais simples. À entrada para a 10ª etapa da
Volta a Itália de 2025, o campeão de 2023 encontra-se novamente em modo de recuperação. Depois da carnificina causada pela etapa de gravilha, o esloveno caiu para 10.º da geral, a cerca de dois minutos de Isaac del Toro, o novo camisola rosa, e a um minuto de Juan Ayuso. Uma vez mais, Roglic está num buraco.
A etapa de domingo foi mais um capítulo sombrio na já vasta coleção de azares do esloveno. Apanhado por uma queda e, pouco depois, a sofrer um furo, viu-se sozinho e sem capacidade de resposta enquanto os principais candidatos à geral iam ganhando vantagem. Não perdeu apenas tempo, perdeu também ritmo, moral e, quem sabe, alguma fé.
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podcast Wuyts & Vlaeminck,
Michel Wuyts levantou uma questão desconfortável: “Alguma vez viram Roglic recuperar com sucesso de uma posição aparentemente perdida?”, argumentando que o esloveno sempre venceu corridas controlando a corrida e não em modo perseguição.
Mas a crítica não resiste a um exame minucioso: na Vuelta de 2024, Roglic recuperou de uma desvantagem de cinco minutos para Ben O'Connor para conquistar o título. A sua vitória na Volta a Itália de 2023 também exigiu sangue frio e uma resposta no momento certo, mesmo que estivesse apenas a segundos de Thomas.
Ainda assim, a ferida da Volta a França de 2020 continua a viva. Batido por Pogacar no contrarrelógio final, Roglic nunca mais pareceu invencível. As repetições de momentos de azar em momentos cruciais, como no empedrado do Tour em 2022 ou agora os setores de gravilha, alimentam a ideia de que há algo que sempre corre mal nos momentos decisivos.
Wuyts foi ainda mais duro na leitura da linguagem corporal: “Depois torna-se um gato assustado. Vê-se isso na sua postura em cima da bicicleta, com as pernas um pouco mais afastadas. Olha para a esquerda, para a direita. A incerteza, está em todo o lado. É um gajo duro, não é?”
O drama vivido no domingo foi diferente. Não se tratou de ter ficado fora da corrida por desgaste, mas sim por causa de uma queda. "Estava escrito nas estrelas que ele voltaria a ter azar numa etapa importante", disse o selecionador nacional da Bélgica, Serge Pauwels.
O contrarrelógio de hoje oferece um palco mais previsível. Sem gravilha, sem quedas, sem caos, será uma oportunidade clara para recuperar tempo e reentrar na luta. Há motivos para acreditar após o excelente desempenho no contrarrelógio da 2ª etapa.
Mas a concorrência é de peso. Isaac del Toro pode ter apenas 21 anos, mas tem estado firme como uma rocha. Juan Ayuso, por sua vez, está em crescendo e apresenta uma consistência que assusta. E a Red Bull - BORA - hansgrohe? Mostrou-se desgastada na 9ª etapa, com Pellizzari a ser o único apoio visível. A ausência de Jai Hindley já se faz sentir.
Roglic tem hoje uma hipótese de redefinir o Giro. O tempo está a contar literalmente. Mas a pergunta permanece: está a correr apenas contra os rivais, ou também contra os seus próprios fantasmas?