O ciclocrosse norte-americano perdeu uma das suas maiores promessas. Katie Clouse, considerada uma das mais talentosas da sua geração, anunciou a retirada da competição com apenas 24 anos. A decisão surge poucos meses depois de ter alcançado um dos melhores resultados da carreira - o 13º lugar no Campeonato do Mundo de elite em Liévin - mas também depois de constatar a falta de apoio financeiro e de patrocínios para continuar ao mais alto nível.
Apesar de ter provado que podia competir entre as melhores, Clouse viu-se obrigada a dividir o tempo entre o treino e trabalhos a tempo parcial para suportar as despesas, inviabilizando a preparação para mais uma época.
“Ciclista feliz tem bom desempenho”
Em entrevista ao Cyclocross Social, Clouse explicou a mistura de sentimentos com que encara este capítulo:
“Estou contente por a minha hora de me reformar ser agora, e não há três anos. Correr no WorldTour enquanto estava na faculdade foi demasiado. Mentalmente, não estava num bom lugar. Depois, com a Fundação Steve Tilford, voltei a apaixonar-me pelo cross. Como se costuma dizer, um ciclista feliz tem um bom desempenho, e é verdade. Liévin foi um dos melhores resultados da minha carreira.”
Mesmo assim, a norte-americana reconhece que a realidade fora da corrida pesou na decisão. “Depois do Mundial procurei muitos patrocinadores. Adoro o cross, mas a certa altura percebi que precisava de um salário para desbloquear o meu verdadeiro potencial. Sem esse apoio, tornou-se impossível.”
Da Human Powered Health ao sonho interrompido
Clouse chegou ao World Tour em 2022, com a
Human Powered Health, onde correu provas como a Volta a Itália e a Paris-Roubaix. Mas admite que o salto aconteceu cedo demais. “Na altura, não havia uma cena forte de juniores femininas no cross. A única forma de evoluir era entrar o mais depressa possível numa equipa WorldTour. Aprendi muito, mas correr a esse nível enquanto estava na escola deixou-me esgotada no final do contrato.”
Ainda assim, guarda orgulho das oportunidades vividas, apesar das dificuldades.
Orgulho em Liévin, futuro nos estudos
A prestação no Mundial de Liévin foi simbólica: “Cheguei lá depois de apenas dois meses a dedicar-me totalmente ao cross. Quase não corri no verão porque precisava de trabalhar. Ainda assim, fiquei a 20 segundos do top 10 e bati ciclistas que competem a tempo inteiro. Contra europeus que vivem e respiram o cross, dei tudo. Foi agridoce, mas saí orgulhosa.”
Agora, Clouse vira-se para novos horizontes: está a trabalhar a tempo inteiro e planeia ingressar na faculdade de medicina ou medicina geral no próximo ano.
“Quero retribuir à comunidade de ciclocrosse que me deu tanto”, concluiu.
A carreira curta de Clouse deixa a sensação de um talento interrompido demasiado cedo, mas também o legado de uma ciclista que, mesmo em condições adversas, mostrou que tinha lugar entre as melhores do mundo.