“Devemos dizer não à violência”: Riberolle dedica o pódio do Rapencross a Cindy Morvan

O Rapencross de Lokeren, disputado no domingo, deveria ter sido apenas mais uma prova no calendário de ciclocrosse, mas para Marion Norbert Riberolle foi muito mais do que isso. A ciclista franco-belga, segunda classificada atrás de Lucinda Brand, usou o microfone após a corrida para prestar homenagem à antiga ciclista Cindy Morvan, brutalmente assassinada em Calais, França.

“Soube da sua morte ontem”, contou Riberolle à Sporza, visivelmente emocionada. “Quando eu ainda vivia em França, ela ajudou-me muito a tornar-me uma ciclista. Foi uma morte violenta. É por isso que quero aproveitar esta oportunidade para dizer que devemos dizer não à violência. Nunca devemos aceitá-la. Os meus pensamentos estão com ela e com os seus entes queridos.”

Cindy Morvan, de 39 anos, antiga campeã francesa de atletismo júnior e figura conhecida do desporto local, foi morta a tiro na sexta-feira em Calais. De acordo com a polícia francesa, o crime foi cometido pela namorada do seu ex-companheiro, com quem Morvan mantinha uma relação “extremamente tensa”. A suspeita suicidou-se de seguida no carro, deixando uma carta de desculpas ao lado do corpo.

A notícia chocou a comunidade desportiva e provocou uma onda de homenagens.

“Não consigo compreender nem aceitar que uma tragédia destas possa acontecer. Cindy Morvan personificava o empenho e a transmissão de conhecimentos. Uma mulher, uma mãe, uma voluntária apaixonada, brutalmente separada daqueles que amava”, escreveu Natacha Bouchart, presidente da Câmara Municipal de Calais, numa mensagem publicada no Facebook.

Apesar da intensidade emocional do momento, Riberolle conseguiu concentrar-se na corrida e garantir um valioso segundo lugar atrás da dominante Lucinda Brand. No entanto, a francesa admitiu que a preparação esteve longe do ideal, já que passou a semana anterior doente.

“Fiquei doente depois de Overijse e passei a semana inteira na cama. Este fim de semana foi mais um treino para o Campeonato da Europa. Por isso, no final, não foi assim tão mau”, explicou.

O pódio em Lokeren foi, para Riberolle, mais um passo na sua preparação para os próximos compromissos internacionais, mas o seu discurso lembrou que, por vezes, a realidade fora do desporto impõe-se com brutalidade.

A mensagem de Riberolle ressoou no pelotão e nas redes sociais, transformando o habitual pós-corrida em um apelo contra a violência. A ciclista da Crelan-Fristads mostrou que, mesmo num ambiente competitivo, há espaço para empatia e memória. O seu gesto foi amplamente elogiado, reforçando a ideia de que as figuras do desporto também têm voz em causas humanas e sociais.