Wellens deixa aviso a Sven Nys: “Afasta-te das bicicletas, não és mecânico”

Doze horas depois de uma das exibições mais impressionantes da época, Thibau Nys trocou o triunfo glorioso em Koppenberg por um domingo de pura frustração no Rapencross de Lokeren. O campeão europeu enfrentou um conjunto improvável de contratempos, problemas de mudanças, várias trocas de bicicleta, o cockpit desalinhado e uma queda na areia, que o fizeram perder três minutos e terminar visivelmente abalado.

A montanha que o tornara um símbolo de domínio transformou-se, num piscar de olhos, num teste de paciência. Enquanto alguns observadores questionaram a forma como reagiu à sucessão de incidentes, Bart Wellens saiu em defesa do jovem belga de 22 anos, contextualizando a sua explosão emocional como uma consequência natural da ambição de um atleta de topo.

“Veja-se o caso de Remco Evenepoel no Campeonato do Mundo, não foi diferente para Thibau em Lokeren”, escreveu Wellens na sua coluna no Het Nieuwsblad. “Os melhores só aceitam os melhores.”

O episódio teve ainda um protagonista secundário: Sven Nys, pai e chefe de equipa, que assumiu publicamente a culpa pelos problemas mecânicos. As dificuldades terão começado com uma afinação experimental das mudanças de velocidade, feita para melhorar a aderência, mas que se revelou instável sob o esforço da corrida.

Wellens foi direto na análise:

“O Sven assumiu a culpa, mas o meu conselho para ele seria: mantém-te no teu trabalho. Afasta-te das bicicletas, não és um mecânico.”

O antigo campeão mundial explicou que, para um ciclista técnico como Thibau, pequenas alterações no cockpit são suficientes para quebrar a confiança e o ritmo.

“Mesmo que as mudanças só tenham deslizado alguns milímetros, um ciclista de ciclocrosse sente isso imediatamente. É sobretudo uma questão mental. Se derem a um ciclista uma bicicleta que pareça ligeiramente diferente, ele vai notar.”

O próprio Thibau confirmou, mais tarde, a “série de circunstâncias” que o forçou a trocar de bicicleta três vezes numa única volta, antes de uma queda na areia selar o desfecho do seu dia.

Depois do espetáculo no Koppenberg, onde dominou de forma quase total, o 15.º lugar em Lokeren pareceu uma queda abrupta. Mas, segundo Wellens, não há motivo para dramatizar.

“Isso não muda o facto de Thibau ter causado uma grande impressão no Koppenberg, embora para mim não tenha sido uma surpresa.”

O técnico destacou também o desempenho de Cameron Mason, o único capaz de seguir Nys durante parte da corrida flamenga:

“O que me surpreendeu foi o tempo que Mason conseguiu ficar com ele. Thibau até se irritou e não parava de olhar para trás. Isso é algo que o Sven claramente não consegue treinar nele.”

O contraste entre sábado e domingo ilustra o ponto central da análise de Wellens: os ciclistas de elite vivem entre dois extremos, o da genialidade e o da frustração, e é essa tensão que os define.

Com o Campeonato da Europa já à vista, Thibau Nys entra na próxima corrida não com dúvidas sobre a sua forma, mas com algo mais importante, a lição da imperfeição. O fim de semana em Lokeren serviu como lembrete de que até os melhores são vulneráveis quando o equipamento falha, e de que o seu padrão de exigência é agora o de um campeão.

Se o Nys de Koppenberg reaparecer, o domingo caótico de Lokeren será apenas uma nota de rodapé num inverno que promete muito mais.